Uma das invenções do papado para legitimar a sua pretensão blasfema de representante de Deus na Terra é a de que ele é o sucessor de São Pedro, que teria sido o primeiro bispo de Roma, ou seja, o primei­ro papa. A igreja de Roma se diz edificada sobre Pedro, que seria a pedra basilar colocada por Jesus Cristo, segundo Sua Palavra. Isto é um grande equívoco. Pedro ou qualquer outro homem não poderia jamais ser a pedra de esquina sobre a qual a Igreja seria edificada. Esta pedra é Jesus, a Rocha Eterna.

Tal engano origina-se da incorreta compreensão do texto do Evangelho de S. Mateus, 16:13-23.

Nele é relatado que as pessoas especulavam a respeito de Quem seria Jesus. Por causa das opiniões variadas, o Mestre perguntou aos Seus discípulos Quem eles achavam que Ele era. “E Si­mão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas Meu Pai, que está nos céus. Pois também Eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela; e Eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na Terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na Terra será desligado nos céus” (S. Mateus 16:16-19).

Ao fazer tal declaração Jesus usou um trocadilho: a palavra grega com que Se referiu a Pedro é “petros”, que significa “pequena pedra”, “pedrinha”, “seixo” ou “calhau”. E a pedra sobre a qual Ele afirmou seria edificada Sua Igreja, é “petra”, que quer dizer “grande pedra”, “rocha”.

Isto está em harmonia com a palavra dos profetas e dos apóstolos, ao referir-se a Jesus, o Messias e Salvador. A rocha, sobre a qual seria edificada a Igreja é a declaração de Pedro, reconhecendo em Jesus o Messias, o Filho de Deus.

O próprio Pedro reconheceu ser Jesus esta pedra, ao escrever muitos anos depois: “Se é que já provastes que o Senhor é benigno. E, chegando-vos para Ele – pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa. Pelo que também na Escritura se contém: Eis que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa; e quem nela crer não será confundido. E assim para vós, os que credes, é preciosa, mas, para os rebeldes, a pedra que os edificadores re­provaram essa foi a principal de esquina” (I S. Pedro 2:3-4, 6-7).

Inúmeros outros textos nas Escrituras atestam ser Jesus esta pedra.

A declaração de que as portas do inferno não prevalecerão sobre Sua Igreja é a clara afirmação da sua vitória sobre a morte e a sepultura (do grego hades = inferno), por ocasião da ressurreição dos justos.

As chaves do reino dos céus que Ele prometeu a Pedro são as mesmas que Ele promete a todo aquele que nEle crê e que aceita o Seu sacrifício: o conhecimento das verdades do Evangelho Eterno, que conduzem ao Salvador e à salvação.

É absurda a idéia de que Jesus pudesse comissionar alguém para ser uma espécie de “porteiro” do reino dos Céus. O Evangelho Eterno, que Pedro e todos os outros discípulos de Jesus, em todos os tempos haveriam de pregar é que é a norma de conduta e de juízo. Os que O aceitas­sem estariam ligados nos céus e os que O rejeitassem estariam desligados nos céus.

Igualmente, é interessante lembrar-se que, imediatamente após as palavras que Jesus dirigiu a Pedro, Ele o repreendeu severamente.

Eis o relato, quando Jesus anunciou-lhes que em breve deveria padecer, morrer e ressuscitar ao terceiro dia: “E Pedro, tomando-O de parte, começou a repreendê-Lo, dizendo: Senhor, tem compaixão de Ti; de modo nenhum Te acontecerá isso. Ele, porém, voltando-Se, disse a Pedro: Para trás de Mim, Satanás, que Me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens” (S. Mateus 13:22-23).

Algum tempo depois, Pedro O negou por três vezes, fato bastante conhecido. Estes fatos são lembrados para mostrar que Pedro era um homem comum, sujeito às quedas, não podendo ser o esteio de uma obra sagrada como a edificação da igreja de Deus, prerrogativa unicamente de Jesus.

Além do mais, Pedro nunca rei­vindicou a primazia entre os discípulos, sendo que o primeiro concílio da cristandade, realizado em Jerusalém, foi presidido por outro apóstolo, Tiago. E, mais, Pedro jamais foi bispo de Roma, porque jamais residiu naquela cidade, estando ali apenas no fim da sua vida, por ocasião da sua morte, quando comparou a ímpia cidade com a antiga e idólatra Babilônia (I S. Pedro 5:3).

Finalmente, foi somente quase quatro séculos depois de sua morte que Pedro foi declara­do papa. O primeiro que proclamou esta idéia foi Leão I, o mesmo que afirmou absurdamente: “A dignidade de Pedro não sofre diminuição por in­digno que seja seu sucessor” (CORREA, Iran (Padre), Biografias dos Papas, p. 103).

Esta afirmação bem denota o conhecimento do seu autor a respeito do caráter das pessoas a quem se referia.