Doze Séculos de Perseguição e Ocultamento
No capítulo onze do livro da Revelação , o Apocalipse, o Senhor mostrou numa maravilhosa profecia a confirmação das Suas Testemunhas. Esta profecia tem seu início no verso três, pois os dois primeiros versos referem-se a outra profecia anterior. Ela inicia-se assim:
VERSO 3 - E darei poder às Minhas Duas Testemunhas e profetizarão por mil duzentos e sessenta dias, vestidas de saco.
Um dia, na interpretação profética, equivale a um ano, princípio aceito pela absoluta maioria dos estudiosos das profecias, conforme depreendido de textos como: Segundo o número dos dias que espiastes esta terra, quarenta dias, por cada dia um ano, levareis sobre vós as vossas iniqüidades (Números 14:34) e ... Porque será o dia da vingança do Senhor, ano de retribuições pela luta de Sião (Isaías. 34:8). Assim, 1.260 dias se referem a 1.260 anos.
Profetizar é o mesmo que ensinar, pois a palavra profeta, em seu completo sentido, significa ensinador , instrutor , professor . Conforme o compêndio A História do Homem nos Últimos Dois Milhões de Anos editado por SELEÇÕES DO READER´S DIGEST, referindo-se aos tempos em que os livros que compõem as Sagradas Escrituras foram escritos, a palavra ‘profeta’ não possuía, então, o significado atual de pessoa que prediz o futuro; designava um homem que, poeta, orador e estadista, se preocupava profundamente com as necessidades sociais e políticas do seu povo (Obra citada, p. 86).
O profeta verdadeiro, de Deus, é um ensinador das coisas de Deus e o profeta falso ensina o erro, o engano e as verdades desvirtuadas, confundindo-as.
Sendo de Deus, estas duas testemunhas profetizariam ou ensinariam as coisas de Deus.
O período referido de 1.260 anos iniciou-se em março do ano 538 d.C., com a derrota dos Ostrogodos e a ascensão do bispo de Roma, já chamado Papa, como chefe universal de todas as igrejas. Em 533 d.C. o imperador Justiniano havia assinado um decreto nesse sentido, mas o mesmo somente pôde entrar em vigor no ano 538 d.C., cinco anos depois, com a vitória de Belizário, chefe militar de Justiniano que, convertido à igreja de Roma, armou o braço do papado.
Este período terminou em março de 1.798, quando a igreja romana teve o seu chefe destituído por Napoleão Bonaparte. O Papa Pio VI foi aprisionado pelo General Berthier, por ordem de Napoleão, em fevereiro de 1.798. Nessa ocasião a besta ; um animal simbólico mencionado no capítulo treze das profecias do Apocalipse, foi ferida de morte em uma de suas cabeças, como está escrito: E vi uma de suas cabeças como ferida de morte, e a sua chaga mortal foi curada; e toda a Terra se maravilhou após a besta (Apocalipse 13:3). De 538 a 1.798 transcorreram exatamente 1.260 anos, que é o período descrito na profecia. Os detalhes e provas históricas do assombroso cumprimento desta profecia estão no sétimo capítulo deste trabalho, intitulado A História de Roma e o Anticristo .
As Duas Testemunhas estavam, segundo o relato bíblico, vestidas de saco. Este era o luto dos judeus e dos povos antigos. Andar vestido de saco significava luto, tristeza, humilhação. As pessoas vestiam-se de saco e procuravam a solidão. Freqüentemente isto era devido a perseguições. Isto foi o que aconteceu às Escrituras Sagradas na Idade Média, até a libertação da consciência humana dos grilhões do papado, pela Revolução Francesa, em 1.798. A história é um testemunho irrefutável desta afirmação.
As vestes de saco durante 1.260 anos indicam a humilhação a que foram submetidas e a perseguição de que foram vítimas naquele grande período de supremacia temporal do papado, acertadamente chamado Idade Escura. Nos dias de trevas espirituais e morais da Idade Média as pretensões papais não conheceram limites. As Escrituras foram proibidas pelos papas aos leigos e os poucos exemplares que existiam aqui e ali, eram compostos numa língua, o latim, que para aquela diversidade de povos com múltiplos idiomas, que constituíam a Europa, era uma língua morta (MELLO, A. S. A Verdade Sobre as Profecias do Apocalipse, p. 276).
Referindo-se a esta face do papado, o historiador Eugene Lawrence afirma: Começou então uma notável contenda entre a igreja romana e a Bíblia, entre os impressores e os papas. Durante muitos séculos as Escrituras haviam estado ocultas num idioma morto (o latim), ocultas do olho público pelos anátemas dos sacerdotes, e em forma manuscrita tão custosa que só era acessível aos opulentos. Uma Bíblia custava tanto como um grande domínio de terras, e com grandes dificuldades podiam as maiores universidades e os mosteiros mais ricos comprar um só exemplar. Sua linguagem e suas doutrinas haviam sido olvidadas desde fazia muito tempo pelo povo, e em seu lugar se havia alimentado o intelecto da Idade Média com extravagantes lendas e visões fradelescas, com fantasias de sacerdotes ociosos, e fábulas de pessoas inescrupulosas. Os prodígios realizados por uma imagem (de santo) favorita, as virtudes das relíquias, os sonhos de um impudico eclesiástico ou de um monge fanático, haviam suplantado os modestos ensinos de Pedro e a narrativa de Lucas. Os homens viam diante de si tão só a imponente estrutura da igreja de Roma, que asseverava ter a supremacia sobre as consciências e a razão, poder perdoar pecados, determinar doutrinas, e que desde muito havia deixado de lembrar que havia um Redentor, uma Bíblia, e até um Deus. A isso seguiu um ateísmo prático. Com freqüência o papa era cético, exceto quanto a seu próprio direito de governar (Historical Studies, pp. 250-251, citado em El Don Permanente de Profecia, pp. 247-248 e As Verdades Sobre as Profecias do Apocalipse, pp. 276-277).
Em 3 de Novembro de 1.911 o semanário The Truth que se edita em Jerusalém, publicou o teor de um documento existente na Biblioteca Nacional de Paris, contendo conselhos que os cardeais entregaram ao papa Júlio III, em 1.051. Eis a transcrição deste documento: De todos os conselhos que podemos dar a Vossa Santidade, retivemos, por último, o mais necessário. Precisamos estar bem alerta e agir na questão em apreciação com todos os recursos de nosso poder, por se tratar do seguinte: A leitura do Evangelho deve ser consentida o mais restritamente possível, principalmente nas línguas modernas e nos países sujeitos à vossa jurisdição. O texto limitado que é lido ordinariamente na missa deveria bastar e a ninguém deve ser permitido ler mais. Enquanto o povo se contentar com essa limitação, florescerão os vossos interesses, mas logo que o povo queira saber mais, começarão os vossos interesses a sofrer marcha decadente. Este é o livro que mais do qualquer outro tem provocado rebelião contra nós, pelo que estamos quase que perdidos, porque, em verdade, se alguém examinar assiduamente a Bíblia e confrontar com o que sucede nas vossas igrejas, forçosamente achará a contradição e verá que os vossos ensinamentos se desviam multiplamente... e se o povo compreender isso, certo é que continuamente nos desafiará até que fique tudo desvendado e então seremos objeto de vasto ódio e escárnio mundial. Por isso é que é preciso que a Bíblia seja subtraída à vista do povo, porém, com muita precaução, para não dar lugar a alvoroço (Arquivo da Ass. Diplomados pelo Col. Adventista, n° 51, 1.939, citado em A Verdade Sobre as Profecias do Apocalipse, A.S. Mello, p. 598).
Retornando ao tema da Revolução Francesa, a História registra que ela se desenvolveu de 1.789 a 1.815, mas foi no ano de 1.798 que ela libertou o mundo das trevas da opressão de Roma. Durante esses mais de mil anos de trevas culturais e morais, as Escrituras estiveram escondidas, proibidas e afastadas do povo, por decretos papais. Hoje, tal fato parece absurdo, mas é a própria História que o afirma.
Referindo-se a esse período, mencionamos uma pena inspirada, que escreveu: Durante a maior parte deste período, as Testemunhas de Deus permaneceram em estado de obscuridade. O poder papal procurava ocultar do povo a Palavra da verdade e colocar diante dele testemunhas falsas para contradizerem o testemunho daquela. Quando a Bíblia foi proscrita pela autoridade religiosa e secular; quando seu testemunho foi pervertido, fazendo homens e demônios todos os esforços para descobrir como desviar da mesma o espírito do povo; quando os que ousavam proclamar suas sagradas verdades eram acossados, traídos, torturados, sepultados nas celas das masmorras, martirizados por sua fé, ou obrigados a fugir para a fortaleza das montanhas e para as covas e cavernas da terra então profetizavam as fiéis testemunhas vestidas de saco. Contudo, continuaram com seu testemunho por todo o período de 1.260 anos. Nos mais obscuros tempos houve fiéis que amavam a Palavra de Deus e eram ciosos de sua honra. A esses fiéis servos foram dados sabedoria, autoridade e poder para anunciar Sua verdade durante aquele tempo todo (WHITE, Ellen G. O Grande Conflito, p. 265).
Nesse período foram feitos inauditos esforços para suprimir e destruir a Bíblia. Com referência aos prolongados esforços para suprimi-la, particularmente as versões mais simples, na linguagem do povo comum, a História menciona a estarrecedora e quase inacreditável verdade para os dias de hoje, da inimizade de Roma para com as Sagradas Escrituras.
Diz Gaussen: O Decreto de Tolosa (França), de 1.229... instituía o Tribunal da Inquisição contra todos os leitores da Bíblia na língua do povo (...) foi um edito de fogo, morticínio e devastação. Em seus capítulos III, IV, V e VI, ordenava a destruição total das casas, dos mais humildes lugares de esconderijo, mesmo dos retiros subterrâneos de homens convictos de possuírem as Escrituras; que fossem perseguidos até a floresta e cavernas da terra; e mesmo os que os abrigassem fossem severamente punidos . Como resultado a Bíblia foi proibida por toda a parte; ela desapareceu, por assim dizer, debaixo da terra; desceu ao túmulo .
Esses decretos foram seguidos durante quinhentos anos por inumeráveis castigos, nos quais o sangue dos santos correu como água (GAUSSEN, L., Le Canon des Saintes Ecritures, parte 2, prop. 641, par. 2, p. 243, Ed. de Lausane, 1.860 citado em O Grande Conflito, Apêndice, p. 685).
Quanto aos esforços especiais feitos para destruir Bíblias durante o Reinado do Terror, em fins de 1.792, diz o Dr. Lorimer: Onde quer que se pudesse encontrar uma Bíblia, podia-se dizer ser ela perseguida de morte; tanto assim que vários respeitáveis comentaristas interpretam a matança das duas testemunhas no capítulo onze do Apocalipse, como a supressão geral, sim, a destruição do Velho e Novo Testamentos na França neste período (LORIMER, J. G., An Historical Sketch of the Protestan Church in France, cap. 8, par. 4 e 5).
Era o estudado propósito de Roma esconder do povo as verdades eternas expressas na Bíblia Sagrada, de que a salvação eterna é de graça e a justiça é, unicamente, pela fé no sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo. A revelação dessas verdades tão claras das Escrituras desmascararia os objetivos do dominante poder eclesiástico que impunha um terrível jugo às consciências, constrangendo-as aos falsos sistemas de religião a que estavam submetidas. Mostraria que as vendas de indulgências e relíquias de santos e a imposição de terríveis penitências eram não só desnecessárias, mas absurdas e abusivas, servindo apenas para o enriquecimento do clero e fortalecimento do seu poder.
Por estas razões é que a Bíblia Sagrada foi proibida aos leigos e colocada no índice dos livros proibidos, pelo Concílio mencionado, no ano de 1.229.
Foi então, no ano de 1.798, que teve início o fim do tempo , predito por Daniel, como está escrito: E tu, Daniel, fecha estas palavras e sela este livro, até ao fim do tempo; muitos correrão de uma parte para outra, e a ciência se multiplicará (Daniel 12:4). Nesse ano teve fim o período de supremacia papal.
Estava em vigor, ainda, o quinto período da Igreja Cristã, o de Sardes , que é conhecido como o período da Reforma . Este, iniciado em 1.517, iria até o ano de 1.833, data de início do sexto e penúltimo período, o de Filadélfia (Apocalipse 3:7-13). Amor Fraternal , que é a significação deste período, se estendeu até o ano de 1.844, quando se iniciou o sétimo e último período da Igreja Cristã, o período de Laodicéia , que quer dizer Povo do Juízo ou Juízo do Povo (Apocalipse 3:14-22).
Quando as trevas provocadas pela tirania de Roma foram dissipadas e o mundo foi libertado do jugo papal, o livro de Daniel, que estava fechado e selado até ao tempo do fim foi aberto. Ele foi sendo estudado e entendido e suas maravilhosas verdades eram como que comidas pelos cristãos sinceros de diversas denominações religiosas que as buscavam com fervor. Deste desejo incontido de desvendar as profecias de Deus, surgiu o grande movimento que anunciava o cumprimento da promessa da Segunda Vinda de Jesus a este mundo.
A má compreensão da profecia apontava para o ano de 1.844 este evento, que é o maior e mais esperado de toda a história da humanidade. Mas aos que o esperavam estava reservada uma grande decepção. Diz o texto Sagrado: ... E tinha na sua mão um livrinho aberto (...) e tomei o livrinho da mão do anjo, e comi-o; e na minha boca era doce como mel; e, havendo-o comido, o meu ventre ficou amargo (Apocalipse 10:2 e 10). O livro que estivera por tanto tempo selado e incompreendido, fôra finalmente aberto e suas verdades reveladas, paulatinamente, aos estudiosos das profecias dos livros de Daniel e Apocalipse.
O livrinho que agora foi mostrado aberto, pela compreensão e entendimento de suas verdades, é o mesmo que as Escrituras mencionam como fechado ou selado , nas profecias de Daniel. Eles permaneceriam fechados ou sem compreensão até ao tempo em que a Providência Divina determinara, como está escrito: E ele disse: Vai, Daniel, porque estas palavras estão fechadas e seladas até ao tempo do fim (Daniel 12:9).
A referência à doçura inicialmente experimentada de que trata o texto anterior era a mensagem da volta de Jesus a este mundo, erroneamente compreendida, no final do século XIX. A menção a ter-se feito amargo, posteriormente, retrata a decepção provocada pela má compreensão das profecias bíblicas, adiando a tão docemente acalentada esperança da volta do Senhor Jesus a este mundo.
O estabelecimento do Seu reino eterno, a maravilhosa promessa de Deus através dos séculos, expressa em Sua Santa Palavra, não deveria, ainda, ser realizada. A própria decepção e frustração provocadas pelo não-cumprimento da profecia, como esperado, ou seja, pela má interpretação da mesma, estavam já consignadas e previstas nas páginas sagradas do livro da Revelação.
A grande decepção foi causada pelo esquecimento das palavras do Mestre, no tocante à data da Sua segunda vinda a este mundo: Porém daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas unicamente Meu Pai (S. Mateus 24:36). Porém foram tantas as profecias cumpridas e tão evidentes os sinais que apontavam para o ano de 1.844 como um ano especial em relação à profecia bíblica, que aquela importante instrução de Jesus fôra esquecida.
Muitas verdades, no entanto, ainda deveriam ser entendidas. Inúmeras profecias ainda iriam se cumprir, antes que chegasse o grande dia da vinda do Senhor. Por esta razão o Anjo Revelador acrescentou: Importa que profetizes (ou ensines) outra vez a muitos povos, e nações, e línguas e reis (Apocalipse 10:11). Estas palavras eram dirigidas aos entristecidos e expectantes filhos de Deus, após a decepção sofrida.
A profecia que fôra erroneamente compreendida e interpretada como se referindo à volta de Jesus apontava, na realidade, para o estabelecimento do JUÍZO. Este assunto de fundamental importância e interesse para os estudiosos das profecias bíblicas faz parte deste trabalho e será devidamente considerado, no 4° capítulo, intitulado O JUÍZO FINAL .
Reportando ao ano de 1.798, antes mencionado, esclarecemos que foi a partir de então que foram fundadas as pequenas e grandes sociedades bíblicas em todo o mundo. Isto não tinha sido possível antes por causa da perseguição de Roma papal, ferrenha inimiga das Escrituras Sagradas. A partir dessa data é que partes das assombrosas profecias de Daniel foram sendo compreendidas pelos diligentes estudiosos das Escrituras. A expressão Muitos correrão de uma parte para outra e a ciência se multiplicará (Daniel 12:4) não poderia ter cumprimento mais extraordinário e assombroso, dando legitimidade ao texto bíblico. A partir da época enfocada houve uma revolução mundial, no mais absoluto sentido da palavra. Em todos os aspectos, o desenvolvimento das ciências ficara estagnado pela intolerância papal que, por mais de um milênio, tolheu todas as tentativas de mudanças.
A partir do século XVIII, entretanto, deixou de existir aquele poder inibidor. A Revolução Industrial deu a partida para um período de desenvolvimento sem paralelo na história da humanidade. Tão profundas foram as mudanças e tantas as maravilhosas descobertas na área da ciência e da tecnologia, que ao considerarmos o breve período em que elas se verificaram não temos nenhuma dúvida em afirmar que realmente a ciência se multiplicou.
Muitos tentam hoje, em vão, compreender o Apocalipse, sem buscar luz na outra testemunha mais velha, que é o livro de Daniel, no Antigo Testamento. É indispensável, para a compreensão daquelas profecias , que sejam compreendidas, primeiramente, as de Daniel. É impossível, ainda, entender o Apocalipse sem conhecer a história de Roma, porquanto as profecias do último livro da Bíblia referem-se, sem nenhuma dúvida, em sua grande maioria, a fatos relacionados com a história mencionada.
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