Blog Archive

Todos os direitos reservados - O Evangelho Eterno.. Tecnologia do Blogger.

Introdução

"Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a


criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém." [Romanos 1:25]


Incontáveis multidões têm, por séculos a fio, estado em ignorância com relação a um personagem histórico e bíblico, comumente designado por Anticristo . A maioria das pessoas tem suposto que se trata de uma figura que há de se manifestar nos últimos tempos, nos últimos dias da história da humanidade. Estas pessoas desconhecem a maioria das qualidades que caracterizam o referido personagem.


Muitos aguardam para o futuro a aparição ou a manifestação do Anticristo, como um ser de aparência bizarra ou satânica. Mas, bizarra e satânica é a conseqüência dos seus enganos, pervertendo os límpidos princípios evangélicos ensinados por Nosso Senhor Jesus Cristo, através de Sua Palavra, as Sagradas Escrituras.


Enganam-se os que supõem que este personagem ofereça uma oposição ostensiva a Jesus Cristo e aos Seus ensinos. Caso ele assim o fizesse não iria enganar a ninguém. Tão mais perniciosa e perigosa é a sua influência, quanto mais sutis forem os seus enganos. A sua aparência é de bondade e de santidade. Terrível e diabólica é a sua sutileza na perversão, subversão e mudança dos límpidos princípios do Cristianismo, fechando às pessoas a porta que Jesus Cristo abriu para a vida eterna e o Reino de Deus.


Noutro aspecto, muitos são enganados supondo que a manifestação do Anticristo se dará ainda no futuro. É bem verdade que isto se dará, sem dúvida, e que no futuro, antes da vinda de Jesus, ele irá intensificar a sua manifestação e obra de engano e perseguição à verdade de Deus, e às Suas fiéis testemunhas.


Mas, o que não pode ser ignorado e é necessário que seja manifestado em alta voz para o mundo todo é que este personagem já existe desde os primeiros séculos da era cristã e exerceu a sua influência diabólica durante quase todos os séculos de existência do Cristianismo. O próprio apóstolo Paulo, como iremos estudar, já em seu tempo advertia para a sua aparição nos dias vizinhos da sua época.


O presente estudo vem, despretensiosa e humildemente, esclarecer sem nenhuma dúvida, com base em textos bíblicos claros e indiscutíveis e registros históricos legítimos e irrefutáveis, de maneira definitiva, quem é, o que representou, representa e representará a pessoa que as Sagradas Escrituras apropriadamente chamam de ANTICRISTO.


Neste estudo iremos relacionar as mudanças que este poder anticristão pretendeu efetuar no Evangelho Eterno e que muitos cristãos sinceros, ainda hoje, observam em detrimento das verdades imutáveis estabelecidas por um Deus que não muda, verdades estas que deverão ser restabelecidas, de acordo com a Sua Palavra, antes da tão aguardada e bendita vinda de Jesus, para aqui estabelecer o Seu reino eterno.


Não é nosso objetivo criticar ou ofender qualquer credo religioso nem a seus seguidores. Temos absoluta consciência de que o Senhor possui sinceros filhos Seus no seio de todas as instituições, mesmo dentre aquelas identificadas ou referidas nas Escrituras como abrigando erros e doutrinas contrárias às estabelecidas pela Palavra de Deus. Prova disso é o último e solene convite proclamado pelo último anjo simbólico, no Apocalipse, ao terminar a sua tríplice mensagem.


O apóstolo da Revelação declara: E depois destas coisas vi descer do céu outro anjo, que tinha grande poder, e a Terra foi iluminada com a sua glória. E clamou fortemente com grande voz, dizendo: Caiu, caiu a grande Babilônia, e se tornou morada de demônios, e coito de todo o espírito imundo, e coito de toda a ave imunda e aborrecível... E ouvi outra voz do céu, que dizia: Saí dela, povo Meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas (Apocalipse 18:1, 2 e 4).


Podemos identificar, portanto, sem nenhuma dúvida e à luz da Palavra de Deus, este poder apóstata. Tão-somente suplicamos do leitor sincero a paciência para examinar todo o relato apresentado, despindo-se de qualquer preconceito e atentando para o caráter sagrado do mesmo.


A história de Roma retrata a ascensão de um império mundial que exerceu domínio universal por muitos séculos. As sete diversas formas de governo desta Cidade-Estado estão, muitos séculos antes do seu aparecimento, registradas nas Sagradas Escrituras. A primeira delas, o reinado, deu lugar a outras, através dos acontecimentos políticos e sociais mencionados pela História Universal, até chegar à sétima e última forma, que é o papado, uma forma de governo religioso que se destacou por mais de um milênio pelo exercício absoluto, também, do poder temporal, conforme expresso através dos registros históricos que não se podem contestar.


Iremos destacar a história de Roma dentro do contexto das nações, especialmente no período compreendido entre os dois últimos milênios, destacando os principais fatos que moldaram a sociedade atual, trazendo à compreensão geral toda a estrutura política e secular que surgiu como conseqüência do absolutismo que imperou durante todo o período mencionado.


O exame isento e imparcial dos fatos que iremos relatar irá revelar, de maneira absolutamente incontestável, a absurda diferença entre aquilo que o poder pesquisado ensina e o que representa na realidade.


É objetivo precípuo deste estudo desnudar toda a estrutura que foi construída sobre fundamentos falsos e oferecer a quem se interesse, a oportunidade de conhecer o verdadeiro lado histórico e filosófico deste poder anticristão.


A referência a este poder, que prevaleceu absoluto por mais de 1.200 anos, está expresso nas Sagradas Escrituras com antecedência de séculos. Manifestado através de símbolos nos livros de Daniel, no Velho Testamento e no de Apocalipse, no Novo, não deixa nenhuma dúvida em sua identificação, ao ser estudado dentro dos princípios de exegese estabelecidos pela própria Bíblia Sagrada. Como pode isto ser entendido ou explicado?


A resposta foi dada por um dos maiores teólogos do Cristianismo, há mais de 1.500 anos: São Jerônimo. Este extraordinário baluarte da fé, pela compreensão que tinha dos textos sagrados e do conhecimento da História, convivendo com muitas das situações descritas na profecia, já denunciava em seu tempo a corrupção e o fausto existente nas côrtes pontifícias, em Roma, preconizando a sua completa degeneração e à da fé. Com uma antecedência de muitos anos ele previu que o Império Romano seria dividido em dez reinos e que o Anticristo estava prestes a se manifestar, perdurando até ao fim dos tempos, quando seria destruído pelo esplendor da vinda do Senhor Jesus.


É, portanto, necessário esclarecer que é absolutamente impossível entender as profecias de Daniel e do Apocalipse, sem um perfeito conhecimento da história de Roma.


A História Universal é o testemunho inconteste que legitima o presente estudo, o qual demonstrará, partindo do efeito para a causa, de maneira irretorquível, a realidade escatológica enunciada pelas Sagradas Escrituras através dos séculos.


Se a humanidade voltasse os olhos para os séculos tintos de sangue do período medieval, iria quedar-se estarrecida e incrédula da crueldade e tirania exercidas por um poder despótico, contra o qual não se admitia nenhuma espécie de recurso. Os mais bárbaros e hediondos crimes foram perpetrados e até hoje permanecem impunes. E, o que é pior, eram executados em nome da religião e de Nosso Senhor Jesus Cristo, o misericordioso Príncipe da paz.


A palavra Anticristo é conceituada no Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, como um personagem que, segundo o Apocalipse, virá, antes do fim do mundo, semear a impiedade até ser afinal vencido por Cristo. É a personificação de todas as forças que se opõem a Cristo. E, por extensão, é qualquer perseguidor feroz dos cristãos.


Segundo o Dicionário Bíblico inserido na edição Revista e Corrigida de João Ferreira de Almeida, de 1.987, publicada pela Imprensa Bíblica Brasileira, o termo Anticristo significa aquele que usurpa o lugar de Cristo, ou aquele que se julga o substituto de Cristo (p. 12 destaque acrescentado).


Todas estas características se enquadram perfeitamente no personagem objeto do presente estudo, mostrando a maravilhosa e perfeita harmonia da profecia bíblica com o assombroso cumprimento histórico da mesma, o que solidifica e alicerça as raízes da fé. Portanto, é absolutamente necessário que o personagem citado seja estudado estritamente dentro do contexto histórico, quando se esclarecerão, inequivocamente, todas as dúvidas a ele relativas.




Próximo

Quatro Impérios Mundiais

Aprouve à misericórdia de Deus revelar os principais acontecimentos futuros da humanidade, até ao fim. Estes acontecimentos foram mostrados a Daniel, primeiramente, há 2.500 anos atrás e depois a João, quase 700 anos depois. De diversas formas foi mostrado, através das profecias de Daniel, o estabelecimento de quatro reinos universais, daquela época até ao fim do mundo. No segundo capítulo do livro de Daniel o futuro foi descortinado, num dos aspectos, através de um sonho de Nabucodonosor, que o profeta, pelo poder de Deus, deu a entender, revelando todo o seu significado.


Desesperado para conhecer o sonho do qual não se lembrava e a sua significação, o rei inquiriu a Daniel: Podes tu fazer-me saber o sonho que vi e a sua interpretação? Respondeu Daniel na presença do rei, e disse: O segredo que o rei requer, nem sábios, nem astrólogos, nem magos, nem adivinhos o podem descobrir ao rei; mas há um Deus nos céus, o qual revela os segredos; Ele, pois, fez saber ao rei Nabucodonosor o que há de ser no fim dos dias. O teu sonho e as visões da tua cabeça na tua cama são estas: Estando tu, ó rei, na tua cama, subiram os teus pensamentos ao que há de ser depois disto. Aquele, pois, que revela os segredos te fez saber o que há de ser. E a mim me foi revelado este segredo, não porque haja em mim mais sabedoria do que em todos os viventes, mas para que a interpretação se fizesse saber ao rei, e para que entendesses os pensamentos do teu coração. Tu, pois, ó rei, estavas vendo, e eis aqui uma grande estátua. Esta estátua, que era grande e cujo esplendor era excelente, estava em pé diante de ti; e a sua vista era terrível. A cabeça daquela estátua era de ouro fino; o seu peito e os seus braços de prata; o seu ventre e as suas coxas de cobre, as pernas de ferro; os seus pés em parte de ferro e em parte de barro. Estavas vendo isto, quando uma pedra foi cortada, sem mão, a qual feriu a estátua nos pés de ferro e de barro, e os esmiuçou. Então foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o cobre, a prata e o ouro, os quais se fizeram como a pragana das eiras no estio, e o vento os levou, e não se achou lugar algum para eles; mas a pedra, que feriu a estátua, se fez um grande monte, e encheu toda a Terra. Este é o sonho; também a interpretação dele diremos na presença do rei. Tu, ó rei, és rei de reis; pois o Deus do Céu te tem dado o reino, o poder, e a força, e a majestade. E onde quer que habitem filhos de homens, animais do campo, e aves do céu, ele tos entregou na tua mão, e fez que dominasses sobre todos eles; tu és a cabeça de ouro. E depois de ti se levantará outro reino, inferior ao teu; e um terceiro reino, de metal, o qual terá domínio sobre toda a Terra. E o quarto reino será forte como ferro; pois, como o ferro esmiúça e quebra tudo, como o ferro quebra todas as coisas, ele esmiuçará e quebrantará. E, quanto ao que viste dos pés e dos dedos, em parte de barro de oleiro, e em parte de ferro, isso será um reino dividido; contudo haverá alguma coisa da firmeza do ferro, pois que viste o ferro misturado com barro de lodo. E, como os dedos dos pés eram em parte de ferro e em parte de barro, assim por uma parte o reino será forte, e por outra será frágil. Quanto ao que viste do ferro misturado com barro de lodo, misturar-se-ão com semente humana, mas não se ligarão um ao outro, assim como o ferro se não mistura com o barro. Mas, nos dias destes reis, o Deus dó Céu levantará um reino que não será jamais destruído; e este reino não passará a outro novo: esmiuçará e consumirá estes reinos, e será estabelecido para sempre. Da maneira como viste que do monte foi cortada uma pedra, sem mãos, e ela esmiuçou o ferro, o cobre, o barro, a prata e o ouro, o Deus grande fez saber ao rei o que há de ser depois disto; e certo é o sonho, e fiel a sua interpretação (Daniel 2:26-45).


Neste sonho impressionante as Sagradas Escrituras estabelecem a existência de quatro impérios mundiais, mas identifica apenas o primeiro, então existente e contemporâneo de Daniel, e que era representado pela cabeça de ouro da estátua simbólica: o império de Babilônia, do qual o rei Nabucodonosor foi o mais expressivo e glorioso representante. No entanto, os outros impérios seriam identificados pela própria Bíblia Sagrada, através de outros símbolos, em outras profecias, as quais iremos considerar, dando destaque às que se referem ao quarto império.


Este, representado pela parte inferior da estátua simbólica mencionada, é Roma e o que dela restou até hoje, e até ao fim. As pernas de ferro são o império e os pés e os dedos, em parte de barro de oleiro e em parte de ferro misturados com barro de lodo são os dez reinos em que o império foi dividido e se constituíram nas nações que deram origem à Europa moderna.


Conforme os relatos sagrados e a comprovação da História Universal, três impérios mundiais sucederam ao de Babilônia, até aos nossos dias. E a seqüência histórica mostra sucessivamente a ascensão e queda destes impérios mundiais: a Medo-Pérsia, a Grécia e, finalmente, Roma.


Os detalhes, datas e referências históricas serão apresentados no desenvolvimento do presente estudo, bem como a confirmação destes quatro impérios, através de outras impressivas profecias bíblicas.




Anterior - Próximo

O Significado Bíblico da Palavra "Besta"

A Bíblia Sagrada utiliza-se do termo besta , fera ou besta-fera ao se referir a nações poderosas, poderes despóticos, geralmente representados por animais ferozes, sem similares na fauna universal. Dentre as bestas mencionadas na Bíblia, a mais conhecida é a que é referida nos capítulos 13 e 17 do livro do Apocalipse, e que representa a mesma mencionada por Daniel, ao referir-se ao quarto império mundial. Este, como já foi mencionado, é Roma, como será mostrado oportunamente. Tal fato é reconhecido até pela própria igreja que tem nela a sua sede e que ostenta o seu nome.


No capítulo sétimo das profecias de Daniel, o profeta relata o primeiro de seus sonhos relativos aos animais representativos dos impérios, as bestas mencionadas: Falou Daniel, e disse: Eu estava olhando, na minha visão da noite, e eis que os quatro ventos do céu combatiam no mar grande. E quatro animais grandes, diferentes uns dos outros, subiam do mar. O primeiro era como leão, e tinha asas de águia; eu olhei até que lhe foram arrancadas as asas, e foi levantado da terra, e posto em pé, como um homem; e foi-lhe dado um coração de homem. Continuei olhando, e eis aqui o segundo animal, semelhante a um urso, o qual se levantou de um lado, tendo na boca três costelas entre os seus dentes; e foi-lhe dito assim: Levanta-te, devora muita carne. Depois disto, eu continuei olhando, e eis aqui outro, semelhante a um leopardo, e tinha quatro asas de ave nas suas costas; tinha também este animal quatro cabeças e foi-lhe dado domínio. Depois disto, eu continuava olhando nas visões da noite, e eis aqui o quarto animal, terrível e espantoso, e muito forte, o qual tinha dentes grandes de ferro; ele devorava e fazia em pedaços, e pisava aos pés o que sobejava; era diferente de todos os animais que apareceram antes dele, e tinha dez pontas (ou chifres). Estando eu considerando as pontas, eis que entre elas subiu outra ponta pequena, diante da qual três das pontas primeiras foram arrancadas; e eis que nesta ponta havia olhos, como olhos de homem e uma boca que falava grandiosamente (Daniel 7:2-8).


A continuação da profecia mostra o estabelecimento do juízo (versos 9 e 10) e o estabelecimento do reino de Deus (verso 14), mostrando que este quarto reino será desfeito e entregue para ser queimado pelo fogo do último dia, que há de purificar a Terra e destruir o mal (verso 11).


A profecia não deixa dúvidas quanto à natureza destes grandes animais simbólicos, afirmando categoricamente: Estes quatro grandes animais, que são quatro, são quatro reinos, que se levantarão da Terra (Daniel 7:17). Depois de identificar estes animais, iremos considerar o quarto animal, que Daniel desejou conhecer com detalhes, como está escrito: Então tive desejo de conhecer a verdade a respeito do quarto animal, que era diferente de todos os outros, muito terrível, cujos dentes eram de ferro, e as suas unhas de metal, que devorava, fazia em pedaços e pisava a pés o que sobrava (Daniel 7:19).


Estes animais apresentados na profecia eram simbólicos das nações que representavam. Para simplificar iremos mencionar a visão de um carneiro e de um bode que o profeta recebeu e que identificará, em sua seqüência, os reinos já referidos. Daniel diz: Levantei os meus olhos, e vi, e eis que um carneiro estava diante do rio, o qual tinha duas pontas; e as duas pontas eram altas, mas uma era mais alta do que a outra; e a mais alta subiu por último. Vi que o carneiro dava marradas para o Ocidente e para o Norte e para o meio-dia; e nenhuns animais podiam estar diante dele, nem havia quem pudesse livrar-se de sua mão; e ele fazia conforme a sua vontade, e se engrandecia. E, estando eu considerando, eis que um bode vinha do Ocidente sobre toda a Terra, mas sem tocar no chão; e aquele bode tinha uma ponta notável entre os olhos; e dirigiu-se ao carneiro que tinha as duas pontas, ao qual eu tinha visto diante do rio, e correu contra ele com todo o ímpeto da sua força. E o vi chegar perto do carneiro, e irritar-se contra ele; e feriu o carneiro, e lhe quebrou as duas pontas, pois não havia força no carneiro para parar diante dele; e o lançou por terra, e o pisou a pés; não houve quem pudesse livrar o carneiro da sua mão. E o bode se engrandeceu em grande maneira; mas, estando na sua maior força, aquela grande ponta foi quebrada; e subiram no seu lugar quatro também notáveis, para os quatro ventos do céu (Daniel 8:3-8).


A identificação dos impérios representados pelas bestas da profecia é feita pela própria Bíblia Sagrada: Aquele carneiro que viste com duas pontas são os reis da Média e da Pérsia; mas o bode peludo é o reino da Grécia; e a ponta grande que tinha entre os olhos é o rei primeiro. O ter sido quebrada, levantando-se quatro em lugar dela, significa que quatro reinos se levantarão da mesma nação, mas não com a força dela (Daniel 8:20-23).


A História confirma com assombrosa fidelidade o cumprimento destas profecias. O império babilônico, representado pela cabeça de ouro da estátua e pelo leão alado, foi subvertido já nos dias de Daniel. Na última noite de subsistência deste império, durante um banquete profano promovido por Belsazar, seu último soberano, foi manifestada a palavra de Deus, em resposta a um pedido do rei: Contou Deus o teu reino, e o acabou. Pesado foste na balança, e foste achado em falta. Dividido foi o teu reino, e deu-se aos medos e aos persas (Daniel 5:26-28). E concluem as Escrituras: Naquela mesma noite foi morto Belsazar, rei dos caldeus. E Dario, o medo, ocupou o reino, na idade de sessenta e dois anos (Daniel 5:30-31).


O soberano da Média, Dario, e seu sobrinho, Ciro, o Grande, rei da Pérsia, unidos, conquistaram o império babilônico no ano de 538 a.C., fato histórico comprovado por qualquer enciclopédia ou compêndio escolar. Simbolizados pelo peito e braços de prata da estátua, os medos e persas são também representados pelo carneiro com dois chifres ou pontas, que são símbolo de domínio ou poder: a ponta maior é a persa, de Ciro, e a menor, a meda, de Dario. Para maior ênfase, foram ainda simbolizados pelo urso profético. Além de Babilônia, os medo-persas conquistaram a Lídia, do riquíssimo Creso e o Egito.


Estas suas três principais conquistas representam as três costelas que o urso simbólico trazia entre os dentes. O predomínio do império medo-persa, o segundo império anunciado na profecia, foi até ao ano de 331 a.C., estendendo-se por um período de mais de dois séculos, desde o ano de 538 a.C.


Segundo a História, a Média era suprema no Oriente, mesmo sobre a Pérsia, à qual dominava. Entretanto, Ciro, o Grande, soberano persa, ergueu-se em armas e depôs do trono medo a seu avô, Astiages. Unindo-se a seu tio Dario, o medo, dividiu com ele o poder até a sua morte, quando passou a reinar absoluto. Por esta razão a profecia indica que a ponta menor (Pérsia) que subiu por último cresceu mais que a ponta primeira (Média).


Ciro foi sucedido por seu filho Cambises, que reinou de 529 a 522 a.C. Em seu lugar ocupou o trono Artaxerxes I, o falso Smerdis, que teve um reinado efêmero. Tendo ocupado o trono pela fraude, foi descoberto e morto. Assumiu em seu lugar Dario Hystapes, em 521 a.C., governando até 484 a.C., quando foi sucedido por seu filho Xerxes, o Grande. Assumindo o trono com 34 anos, reinou até 465 a.C. , quando seu filho Artaxerxes I, Longímano, herdou o trono, reinando até 422 a.C. Foi ele quem assinou o decreto de reconstrução de Jerusalém, que deu início ao período profético das setenta semanas e dos 2.300 dias (Daniel 9:24-25 e 8:14).


Na seqüência reinaram Xerxes II, por apenas 45 dias, Dario II, Ochus (422 a 406 a.C.), Artaxerxes II, Arsaces (406 a 359 a.C.), Artaxerxes III, Ochus (359 a 338 a.C.) e Dario III, Codomano (338 a 331 a.C.). Este foi o décimo e último soberano persa, derrotado por Alexandre, o Grande, o conquistador grego que dominou o mundo todo com apenas 32 anos de idade.


O terceiro império relatado nas Sagradas Escrituras, que já fôra simbolizado pelo ventre e coxas de cobre da estátua, é representado primeiramente por um leopardo com quatro asas e quatro cabeças. É representado, também, por um bode, que era o símbolo nacional da Grécia. As quatro asas do leopardo e o fato de que o bode vinha do Ocidente sobre toda a Terra, mas sem tocar o chão, representa a fulminante campanha de conquistas de Alexandre, o Grande, referido na profecia como a ponta grande que o bode tinha entre os olhos. A surpreendente e extraordinária rapidez destas conquistas assombrou o mundo e até hoje constituem motivo de admiração dos historiadores.


Alexandre fulminou os persas nas conhecidas batalhas de Granico, em maio de 334 a.C., Ipso, em 29 de novembro de 333 a.C. e na decisiva batalha de Arbelas, em 2 de outubro de 331 a.C., quando, com apenas 50.000 homens derrotou o exército do rei Dario Codomano, que possuía 1.000.000 de soldados de infantaria e 200.000 soldados de cavalaria.


Mas, no auge de sua glória e no apogeu de suas conquistas, Alexandre foi acometido de um mal súbito e morreu, em 13 de junho de 323 a.C., com apenas 32 anos de idade. A profecia que não falha estabelecera, descortinando o futuro: estando na sua maior força, aquela grande ponta foi quebrada; e subiram em seu lugar quatro também notáveis, para os quatro ventos do céu (Daniel 8:8).


É assombroso o testemunho da História Universal, legitimando e confirmando o texto sagrado: Dos quatro reinos em que estava dividido já em 301 a.C. com Antígono, Lisímaco, Seleuco e Ptolomeu só dois subsistiram até as conquistas romanas efetivadas no primeiro século da Era Cristã; um foi o dos Selêucidas, compreendendo a Síria, a Mesopotâmia, a Média, a Pérsia e a Armênia; outro foi o dos Ptolomeus, fixado no Egito (Grandes Personagens da História Universal, Alexandre , p. 92 , Editora Abril). Estes quatro generais representam as quatro pontas, isto é, os quatro reinos em que foi dividido o império de Alexandre, como está escrito: e subiram no seu lugar quatro também notáveis... (Daniel 8:8).


A divisão original do império ficou, então, assim distribuída entre os generais de Alexandre: a Cassandro, que substituiu a Antígono, coube a Grécia e a Macedônia; a Lisímaco, a Trácia e Bitínia; a Ptolomeu, o Egito, Líbia, Arábia, Palestina, Cele-Síria e a Ilha de Chipre; finalmente, a Seleuco Nicator, coube a Síria, parte da Ásia Menor e as províncias orientais.

Roma, o Quarto Império Mundial

Das quatro bestas ou animais simbólicos, a atenção do profeta foi despertada para o quarto, que era diferente de todos os outros, muito terrível (...) que será o quarto reino da Terra, o qual será diferente de todos os reinos; e devorará toda a Terra, e a pisará a pés, e a fará em pedaços (Daniel 7:19 e 23). Não existe a menor discordância, tanto da parte dos historiadores, quanto dos estudiosos das Escrituras Sagradas, para o fato plenamente estabelecido de que o quarto império se refere ao Império Romano.


A batalha de Pidna, ferida na Macedônia em 22 de julho do ano 168 a. C. e vencida por Roma, marca o início do seu domínio mundial. Derrotando os gregos, Roma submeteu o mundo, iniciando o mais longo e terrível período de opressão de que se tem conhecimento. A sua fase imperial durou até o ano de 476 d. C., quando foi derrubada pelo bárbaro Odoacro, chefe da nação dos hérulos. Entretanto, após a fase imperial, o seu predomínio continuou, então sob nova roupagem, a papal, que será objeto de nossa criteriosa consideração.


A conhecida Águia Romana que enfeitava os estandartes da nação e era o seu símbolo, sempre foi motivo de espanto e terror por onde passava. Muitos séculos antes de Daniel a Inspiração já fazia dela menção, quando o Senhor, através de Moisés, mostrou no futuro as bênçãos que adviriam pela obediência, e as conseqüências nefastas da apostasia.


Dentre as maldições que sobreviriam ao povo de Israel pelo afastamento dos misericordiosos conselhos do Senhor e do abandono a Seus preceitos e Sua lei, estava talvez a maior delas: O Senhor levantará contra ti uma nação de longe, da extremidade da Terra, que voa como a águia, nação cuja língua não entenderás; nação feroz de rosto, que não atentará para o rosto do velho, nem se apiedará do moço (Deuteronômio 28:49-50). Tudo isto se cumpriu na nação, e mais, quando, conforme estava prescrito, Jerusalém foi destruída no cerco romano do ano 70 d.C., quando os seus sobreviventes foram levados cativos e dispersos pelo mundo todo (versos 51 a 58).


Roma, em todas as suas fases, teve sete formas de governo, a saber: a realeza (753 a.C.), o consulado (510 a.C.), a ditadura (500 a.C.), os tribunos (493 a.C.), o decenvirato (450 a.C.), o império (30 a.C.) e o papado (538 d. C.). É necessário ressaltar a lembrança de que tudo isto são fatos históricos e que não podem ser ignorados ou esquecidos. O triunvirato, que poderia ser citado também como uma forma de governo, não o foi, como diz o registro histórico: O Triunvirato, que data o primeiro do ano 60 a. C., não foi uma forma legal de governo; foi tão-somente um arranjo particular pelo qual Pompeu, Crasso e Júlio César concordaram em chamar a si a administração, derrubando a supremacia do senado (LIMA, Oliveira, Histó ria da Civilização, p. 127).


A história das conquistas de Roma confirma todas as especificações da profecia. O mundo todo foi pisado, saqueado, subjugado, e os despojos levados para a capital. Milhões de pessoas de todos os lugares do vasto império foram mortas ou escravizadas, não havendo nenhuma força ou poder que pudesse conter o ímpeto romano. Riquezas incalculáveis eram levadas para a Cidade Eterna . Havia fartura de pão e vinho e toda forma de trabalho era executada por escravos trazidos das nações conquistadas. O imperador proporcionava pão e circo de graça para as turbas, isto é, comida e entretenimento para as multidões ociosas, que viviam do saque dos povos tributários de Roma.


As questões religiosas foram ligadas às questões de Estado e houve a união do poder político ao poder religioso. O fundador do Império Romano, Otávio Augusto, sabedor que a religião é um princípio unificador, esforçou-se por suscitar um grande despertar religioso, com vistas não só à calcificação das grandes unidades do império, como também para restaurar a moral, a paz e a autoridade em todo o império. Uma primeira grande característica da religião romana, na época do Império, foi o culto aos imperadores, que surgiu com Otávio Augusto que, em vida, foi reverenciado em conjunto com a deusa de Roma (a personificação do espírito do Império) e que após a sua morte em 14 d. C., recebeu a apoteose , isto é, o direito de ter um lugar entre os deuses. Com isto, fundava-se o culto imperial, uma das principais formas da religião oficial. Tornou-se, o culto aos imperadores, um sinônimo de lealdade ao Império e, recusar-se a cultuar o imperador era um crime contra o Império (SILVA, Marcos, Processo Histórico de Apostasia Da Torre de Babel ao Anticristo, p. 68). O colégio dos pontífices, na Roma imperial era presidido pelo pontífice máximo, que era o verdadeiro chefe da religião. O cargo era tão importante que M. C. Giordani, comentando, escreveu: Podemos avaliar o prestígio e a importância do PONTIFEX MAXIMUS quando lembramos a preocupação de César em ocupar tal cargo e o fato de que Augusto só se sentiu dono de Roma quando conseguiu suceder a Lépido como PONTIFEX MAXIMUS (GIORDANI, Mário Curtis, História de Roma, citado em Processo Histórico, p. 66).


Esta era a condição do mundo, na aurora do Cristianismo. A Judéia subjugada fazia parte do vasto império e a província era administrada pelo Governador ou Procurador Pôncio Pilatos, quando Jesus Cristo foi morto. Foi ele, Pôncio Pilatos, como representante do império e em nome do imperador Tibério César, quem autorizou a execução da Sua sentença de morte.

O Cristianismo

O Cristianismo é um princípio de vida de origem divina. Ele é, num sentido geral, a continuação do que conhecemos como Judaísmo, isto é, a síntese dos ensinamentos ministrados aos hebreus, enviados através de patriarcas e profetas. A única diferença é o cerimonial típico de sacrifícios, praticados pelos judeus e que tiveram cumprimento no sacrifício de Jesus, para o qual aqueles sacrifícios apontavam. Vindo o verdadeiro sacrifício do qual aqueles eram sombra, não se faziam mais necessários aqueles ritos simbólicos, como os holocaustos, festas cerimoniais e a circuncisão, dentre outros.


O Cristianismo sintetiza os ensinamentos de Jesus Cristo, de amor a Deus e ao próximo. Pelo Seu sacrifício, a humanidade teria restabelecida novamente a ligação com Deus, rompida pelo pecado, no Éden. Este é o verdadeiro sentido da palavra religião . Ela significa religação . Portanto, a verdadeira religião não é uma instituição ou denominação religiosa, mas uma pessoa: Jesus Cristo. Ele é a verdadeira religião e o único caminho por meio do qual o homem pode ser restabelecido à comunhão e ao favor do Pai.


Este caminho foi claramente definido por Jesus, ao dirigir-se a Natanael, um dos Seus discípulos, no início do Seu trabalho em favor dos homens. Disse Ele, referindo-se a Si próprio: Na verdade, na verdade vos digo que daqui em diante vereis o céu aberto, e os anjos de Deus subirem e descerem sobre o Filho de Deus (S. João 1:51). Esta mística ligação com o céu já havia anteriormente sido manifestada através da Palavra de Deus, muitos séculos antes, quando Jacó, fugindo da ira de seu irmão Esaú, teve um sonho da parte de Deus: E sonhou: e eis uma escada era posta na Terra, cujo topo tocava nos céus; e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela (Gênesis 28:12).


Jesus é, portanto, a escada ou a ponte para o céu. Ele é, repetimos, a única ligação possível da humanidade, com Deus. Existe na Terra um poder, o qual é o objeto do presente estudo, que se arroga esta condição e procura usurpar a prerrogativa que somente Jesus pode ter. É ele designado como a suprema ponte , ou Sumo Pontífice, título que herdou do antigo paganismo romano.


Portanto, somente através de Jesus o homem novamente pode ter direito à vida eterna, vencido o poder da morte, à qual todo ser humano estava subjugado. O retorno à vida, pela ressurreição, ficou assegurado pelo Criador, com a oferta representada pelo sacrifício da cruz.


O próprio Senhor Jesus afirmou, categoricamente: Eu sou o primeiro e o último; e o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da morte e da sepultura . Eu Sou a ressurreição e a vida; quem crê em Mim, ainda que esteja morto, viverá . E Eu o ressuscitarei no último dia (Apocalipse 1:17- 18; S. João 11:25 e 6:44).


O mesmo Jesus afirma claramente: Quem ouve a Minha Palavra, e crê nAquele que Me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida . Ele diz, ainda: os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão . Não vos maravilheis disto; porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a Sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação (S. João 5:24-25 e 28-29).


Esta é a essência do Cristianismo. Unicamente pela fé em Jesus Cristo e pela aceitação do Seu sacrifício é que o homem tem o direito à vida eterna. Não existe mais nada, nenhuma coisa, nenhum homem, nenhum outro nome que possa substituir ou contribuir com o que Deus estabeleceu para a nossa salvação. Pedro, falando de Jesus, a pedra que foi posta por cabeça de esquina, como fundamento da Igreja, afirmou: Em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos .


E Paulo ensina: Todos estão debaixo do pecado, não há um justo, nem um sequer. Não há quem faça o bem, não há nem um só. Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus (Atos 4:11-12; Romanos 3:9-10, 12 e 23). O mesmo apóstolo, inspirado pelo Espírito de Deus, completa: Sendo justificados gratuitamente pela Sua graça; pela redenção que há em Cristo Jesus . Sendo pois justificados pela fé, temos paz com Deus, por Nosso Senhor Jesus Cristo . Porque o salário (ou conseqüência) do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por (através de) Cristo Jesus, nosso Senhor (Romanos 3:24, 5:1 e 6:23).


Esta, repetimos, é a essência do Cristianismo. Todo ensino, filosofia ou doutrina contrária a estes princípios, que visem modificá-los, alterá-los ou mesmo aperfeiçoá-los, tem origem no inimigo de Deus e de Jesus Cristo e podem ser rotulados, sem nenhuma dúvida, de anticristianismo.


A maior prova de que a fé de alguém é genuína é a revolução que acontece em sua vida, ao conhecer a Jesus e aceitar o Seu sacrifício. Quando alguém abraça a Jesus Cristo a verdadeira religião pela fé, é transformado. Um poder superior modifica os seus hábitos, pensamentos e ambições. É este poder santificador a influência do Espírito Santo que modela o caráter à semelhança do caráter do Mestre, a Quem desejará imitar.


Então, o que era impossível, passa a ser uma realidade em sua vida: vencer as tentações, desejar naturalmente fazer o bem até mesmo para quem lhe faz o mal, afastar-se do erro, amar os inimigos, pagar todo mal com o bem e outras coisas que ao homem natural é impossível fazer. Estará vivendo aqui mesmo na Terra, os princípios do reino de Deus, do qual se tornou um cidadão. Estará praticando a lei do amor e da caridade, habilitado para o céu. Por gratidão e amor a Deus praticará a obediência voluntária a todos os Seus princípios e mandamentos. A graça está em seu coração, a salvação o alcançou. Este é o Cristianismo verdadeiro, a religação com Deus.

A Igreja Católica Apostólica Cristã

Três anos e meio após a morte, ressurreição e ascensão de Jesus, com o apedrejamento de Estevão, no ano 34 d. C., abateu-se uma terrível perseguição sobre os apóstolos e os primeiros cristãos, em Jerusalém. Por esta razão, todos foram dispersos pelas terras da Judéia e Samaria (Atos 8:1) e o Evangelho começou a ser pregado em outros lugares. O Espírito Santo era Quem conduzia e inspirava os seguidores de Cristo na sublime e sobre-humana tarefa de levar a mensagem de salvação ao mundo.


A conversão, no caminho de Damasco, daquele que era o maior perseguidor dos discípulos de Cristo Saulo e que teve o seu nome mudado para Paulo, ficando conhecido como o Apóstolo dos Gentios veio trazer um inestimável reforço na pregação do Evangelho Eterno. Milhares de pessoas aceitavam a fé no Crucificado.


A mensagem central era a salvação eterna, a ser consumada por ocasião da segunda vinda de Jesus, conforme a Sua promessa feita poucos anos antes: Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em Mim. Na casa de Meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, Eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos lugar. E, se Eu for, e vos preparar lugar virei outra vez, e vos levarei para Mim mesmo, para que onde Eu estiver estejais vós também (S. João 14:1-3).


A esperança dos seguidores de Cristo era a Sua volta ao mundo, o que, segundo criam, deveria acontecer já em seus dias. Mas não deveria ser assim, conforme Paulo explicou em sua segunda carta aos Tessalonicenses. Muitas coisas deveriam acontecer antes da vinda do Senhor. O Evangelho Eterno seria pervertido e as suas verdades jogadas por terra. Enfim, muitos séculos separavam o seu tempo do retorno do Senhor a este mundo.


Esta mensagem foi-lhes enviada para que não desanimassem, visto que muitos dos irmãos morriam sem testemunhar o cumprimento da promessa e a realização de suas mais acalentadas esperanças.


Paulo escreveu: Ora, irmãos, rogamos-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com Ele, que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo estivesse já perto. Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição; o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora, de sorte que se assentará como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus. Não vos lembrais de que estas coisas vos dizia quando ainda estava convosco? E agora vós sabeis o que o detém, para que a seu próprio tempo seja manifestado. Porque já o mistério da injustiça opera: somente há um que agora resiste até que do meio seja tirado; e então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da Sua boca, e aniquilará pelo esplendor da Sua vinda; a esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E por isso Deus enviará a operação do erro, para que creiam a mentira; para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniqüidade (II Tessalonicenses 2:1-12).


Esta mensagem de Paulo esclarece aos seus contemporâneos o equívoco de sua esperança na vinda imediata do Senhor, transferindo esta mesma esperança para um futuro de onde seriam resgatados da sepultura e da morte pela ressurreição, no dia da Sua vinda (1Coríntios 15:23). O apóstolo identifica, sem sombra de dúvidas, o grande poder apóstata que estava para se manifestar, e que seria estabelecido quando fosse removido o obstáculo que impedia a sua ascensão, o que iremos considerar.


Este poder, conforme atestam comentaristas e teólogos católicos, não representa uma única pessoa, mas uma inumerável série de pessoas que, ininterruptamente, ao longo dos séculos, vêm sucessivamente afrontando os Céus. Eis o comentário do PONTIFÍCIO INSTITUTO BÍBLICO DE ROMA, através da Bíblia Sagrada, Edições Paulinas, 1969, ao analisar o texto antes referido: 3.5 O tempo da parousia (segundo advento de Cristo) não é iminente, pois antes devem suceder os sinais precursores, de que Paulo já falara em sua instrução oral. As suas palavras deviam ser claras para os seus destinatários, recordando-se elas de tudo o que fôra ensinado; para nós, ao contrário, são assaz obscuras e quase indecifráveis .


Ora, para estes comentaristas podem ser indecifráveis e obscuras as palavras de Paulo. Para os estudiosos das Sagradas Escrituras e das profecias de Deus, entretanto, estas palavras revestem-se de uma clareza meridiana. Eis a continuação do comentário citado: Antes da segunda vinda haverá uma grande defecção religiosa (conforme Mateus 24:11-13); manifestar- se-á o homem da impiedade, o anticristo, voltado à perdição e causa de perdição para muitos, contrário à lei de Deus e ao próprio Deus e com pretensões de assentar-se no templo de Deus, isto é, ser adorado como Deus. Pela descrição que dele faz o apóstolo, o Anticristo parece ser um indivíduo determinado; para outros seria uma coletividade, uma série ininterrupta, de emissários do demônio, que desde os inícios do Cristianismo o combatem e o combaterão encarniçadamente (p. 1.422, destaques acrescentados).


O comentário está absolutamente certo, neste aspecto, porque quando um papa é eleito ele é investido num cargo vitalício que somente deixa quando morre. Ao ser substituído, seu sucessor dá seqüência à série de pontífices que somente terá termo na vinda de Jesus, quando será destruído, pelo assopro da Sua boca, conforme o texto profético da Palavra de Deus. Continuando: 7-8 A rebelião contra Deus e a luta contra a religião, inspirada pelo espírito das trevas já se iniciou e se vai alargando, mas encontra um impedimento no obstáculo; quando este for retirado, então manifestar-se-á o ímpio. O Senhor Jesus o destruirá com o sopro da Sua boca (Idem, p. 1.423).


Verdadeiramente, este poder apóstata e anticristão lutou encarniçadamente contra o Cristianismo. Usando o seu nome, procurou e quase conseguiu destruir os límpidos princípios do Evangelho Eterno ensinados pelos patriarcas e profetas hebreus, por Jesus Cristo e pelos Seus apóstolos. Somente uma minoria obstinada e fiel, perseguida e martirizada, manteve através dos séculos acesa a chama da verdade de Deus. Estes, perseguidos como hereges, são chamados por Deus através de Sua Palavra de Santos do Altíssimo .


Segundo a História, Em Antioquia foram cunhados dois nomes: o de cristão e o de católico, este último inventado por um escritor local do século II, o mártir Inácio (Grandes Personagens da História Universal, Paulo , Editora Abril, p. 130). As próprias Escrituras confirmam: Em Antioquia foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos (Atos 11:26).


A palavra católico tem a conotação de universal e, figuradamente, de algo correto , perfeito . Ao ser cunhada pela primeira vez referindo-se aos seguidores de Cristo, podia adequar- se perfeitamente aos puros princípios do Cristianismo praticados pelos primeiros cristãos. Era perfeitamente adequado o nome de IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA CRISTÃ, pois identificava uma igreja universal, cujo fundamento era Cristo, de Quem levava o nome, e confiada aos apóstolos, por comissão do próprio Senhor Jesus.


O Evangelho Eterno era pregado com grande poder e os seus frutos eram abundantes. Mas, aos poucos, a pureza apostólica foi dando lugar a um afrouxamento e afastamento dos límpidos ensinamentos de Jesus. Havia passado o primeiro período da igreja Cristã, representado no Apocalipse pela carta à Igreja de Éfeso (Apocalipse 2:7). A partir do imperador Nero a Igreja e seus seguidores foram vítimas de terríveis perseguições e milhares de fiéis testemunhas de Jesus tiveram o seu sangue derramado e pagaram com a própria vida pelo simples fato de ser cristãos.


Segundo o registro histórico, todas as instituições romanas (a justiça, o exército, o senado), a moral, os usos e os costumes estavam impregnados de paganismo. Os cristãos não queimavam incenso ao imperador e se opunham ao modo de vida da maioria, além de se reunirem em secreto, o que era proibido. Por isto, e muito mais, iniciaram-se as perseguições, já no ano 64 d. C., sob o governo de Nero. Outros imperadores, como Domiciano, Trajano, Marco Aurélio, Septímio Severo, Aureliano etc., também perseguiram os cristãos, terminando com Diocleciano, o último imperador romano a empreender feroz perseguição (Processo Histórico..., p. 81).


O sangue dos mártires, no entanto, era como semente fecunda. Por mais que Satanás oprimisse os cristãos, através das perseguições desencadeadas pelos imperadores romanos, mais o seu número aumentava. Foram dez as perseguições contra a Igreja. A mais terrível, e a última, mencionada especificamente na profecia (Apocalipse 2:10), teve a duração de dez anos, através do imperador Diocleciano.


Então, Satanás, conhecendo que a sua estratégia de perseguir não produzia os resultados que desejava, resolveu mudar de tática. A mulher, que representava na profecia a Igreja e esposa de Jesus Cristo, manteve-se fiel debaixo das mais ferozes perseguições, enfrentando os mais cruéis sofrimentos. Sendo impossível dobrá-la pela força, resolveu Satanás tentar conquistá-la pela sedução.

A Igreja Católica Apostólica Romana I

Registra a História: Mas Diocleciano continuou a perseguir os cristãos. O seu sucessor, Constantino, foi o primeiro imperador suficientemente sagaz para compreender que o Cristianismo, graças ao seu poder de fascínio e de lealdade incutidos nos homens, era a única força capaz de salvar o império. Assim, em 313, declarou que o Cristianismo seria tolerado em todas as suas terras, embora, pessoalmente, só 25 anos mais tarde viesse a ser batizado (A História do Homem nos últimos Dois milhões de Anos, Se leções do Readers Digest, p. 121).


Com o famoso Edito de Milão, em 313 d. C., encerrou-se toda a forma de perseguição aos cristãos. Nesse ano teve fim o segundo período da Igreja Cristã, representado pela carta à Igreja de Esmirna, que significa perfume ou cheiro suave , e que constituiu o período das perseguições de Roma imperial e dos mártires (Apocalipse 2:8-11).


Iniciou-se, nesse mesmo ano, o terceiro período, representado pela carta à Igreja de Pérgamo, que significa elevação , e que consiste no período em que a Igreja, a mulher simbólica, começou a ceder às investidas sedutoras do dragão romano, deixando os puros princípios de Cristo, o seu marido, e passando a aceitar a corte daquele que viria a ser o seu amante. Aos poucos, de maneira quase imperceptível, os ritos do paganismo imperial que era a religião de Roma começaram a ser absorvidos pela Igreja Cristã.


Esta prática nefasta era aceita com a desculpa de que a tolerância para com estas práticas pagãs serviria para atrair os seus adeptos, para facilitar a sua conversão para o Cristianismo. O que aconteceu, entretanto, foi que com o passar do tempo, o Cristianismo é que foi absorvido e se converteu ao paganismo, mantendo apenas o nome de cristão, o qual foi mais tarde retirado do nome da Igreja para, em seu lugar, ser colocado o nome do amante e assassino do esposo, o dragão romano. A partir de então, esta igreja passou a ostentar o nome que mantém até aos dias de hoje: IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA.


O imperador, que era adorado como deus, passou a ser o chefe da Igreja. Diz a História Universal: Ao tornar-se imperador, Constantino sucedeu a uma série de monarcas que, adorados como deuses, governaram como senhores absolutos durante muitas gerações. Embora o poder absoluto continuasse, o caráter divino teve de ser suprimido, uma vez que o Cristianismo admitia apenas um deus. Chegou-se, por isso, a um compromisso, segundo o qual o imperador era considerado o representante de Deus na Terra, o 13° Apóstolo, com o título de Igual aos Apóstolos . Não importava como chegava ao trono; o seu cargo era aprovado por Deus, mesmo que, como às vezes acontecia, o imperador fosse um monstro de maldade (A História do Homem..., p. 122, destaques acrescentados).


É importante ressaltar que, após a sua conversão , Constantino assassinou, somente de sua família, as seguintes pessoas: Licínio, seu cunhado; Liciniano, seu sobrinho; Fausta, sua mulher e Crispo, seu próprio filho, morto por ciúme.


Continua a História: Nos numerosos concílios de toda a Igreja Cristã, o imperador e os bispos tentaram resolver problemas difíceis, como, por exemplo, se Deus Pai era maior do que Deus Filho (Obra citada, p. 123). A partir de Constantino, os imperadores bizantinos foram considerados, pelo império romano, chefes da igreja Cristã (Ibidem).


A fé pessoal de Constantino e a preocupação de fortalecer o Império uniam-se para levá-lo a proteger o Cristianismo, a enriquecer a Igreja, e a aumentar a sua influência. Constantino, contudo, não rompeu com o paganismo oficial. A separação entre o paganismo e o Estado somente teve lugar em 379. Continuou sendo o PONTIFEX MAXIMUS, fundou Constantinopla segundo os ritos pagãos tradicionais, permitiu que os templos subsistissem e que novos templos fossem edificados (Processo Histórico..., p. 83).


A mudança de comportamento e dos princípios do Cristianismo apostólico era evidente e a História continua com o seu testemunho: Enquanto a ameaça de perseguição aos cristãos persistiu, era o martírio que representava o ponto alto de uma alma cristã em busca da perfeição. Chegada, porém, a paz para a Igreja, o panorama se transformou. O Cristianismo instalou-se no mundo, às vezes de maneira bastante confortável. O deslumbramento pelas facilidades que os imperadores concediam, a convivência com o poder, as conversões em massa, muitas vezes superficiais e interesseiras, trazem também o afrouxamento da religiosidade (BENTO, S., Grandes Personalidades da História Universal, Editora Abril, p. 184).


É inegável que o afrouxamento dos princípios morais do Cristianismo, mencionado pelo registro histórico, representou a mudança destes mesmos princípios, realizada através da absorção das práticas e rituais pagãos pelo cristianismo mutante.


Seguem os testemunhos da História: A queda de Maximino Daia assegurou a aplicação do Edito (de Milão) na Ásia e no Egito. O ano de 313 foi o começo da paz na Igreja . As perseguições terminavam com a vitória do Cristianismo em toda a extensão do mundo romano. As conseqüências para o Cristianismo foram quase que imediatas: em todos os lugares, multidões vinham juntar-se aos cristãos. (...) O triunfo de Constantino sobre os seus rivais teve como resultado a vitória do Cristianismo. Este afluxo enorme de conversos ao Cristianismo, vindos do paganismo, cobrou o seu quinhão, principalmente no que diz respeito às crenças, práticas, enfim, no culto cristão como um todo. Fecharíamos os olhos à evidência se quiséssemos negar a sobrevivência das práticas pagãs no culto cristão. As concessões ou as transferências a que teve de ceder, apenas mostram ainda melhor a força dos hábitos que não puderam ser abandonados pelos novos conversos. Esta situação dos novos conversos trouxe conseqüências deteriorantes para a doutrina e culto cristãos (Processo Histórico..., p. 82).


Este processo de mudança dos verdadeiros e puros princípios e doutrinas cristãos, como foram ensinados por Jesus Cristo e expressos nas Sagradas Escrituras, por princípios e práticas do paganismo, continuaram por todos os séculos seguintes, como iremos demonstrar na seqüência deste trabalho, destacando agora pela oportunidade, interessante registro histórico, que legitima esta afirmação: O papa Gregório I mandou para a Inglaterra, no fim do século VI, um grupo de missionários (...) a sua missão foi coroada de êxito e por volta de meados do século VII o paganismo estava em franco declínio na Inglaterra. O culto dos antigos deuses não se extinguiu imediatamente, e o próprio Gregório I aconselhou os seus missionários a não interferirem nos santuários pagãos e a tentarem introduzir o culto cristão gradualmente, lado a lado com as práticas pagãs. A esta mistura de Cristianismo e paganismo se deve o fato de o nascimento de Cristo ser celebrado em 25 de dezembro dia do festival do inverno pagão (A História do Homem..., p. 144, destaques acrescentados).


Outra fonte histórica esclarece ainda mais esta questão. O mitraísmo era o principal sistema religioso pagão em todo o império romano antes da ascensão do Cristianismo à posição de religião oficial do Império. Esta fonte relata: Como o sol se ergue cada manhã acima do horizonte, assim Mitra (o deus sol), nascendo, saía de um rochedo; nos templos venerava-se a pedra cônica, de onde emergia uma criança nua, com o boné frigio na cabeça; a data do nascimento do deus, o natalis solis invicti , foi fixada no dia 25 de dezembro, quando o sol começa a sua carreira ascendente. Ou seja, porque após o solstício de inverno (21 de dezembro), os dias começavam a ficar mais extensos e a invencível estrela triunfava outra vez sobre a terra (Processo Histórico..., p. 60).


Ainda segundo a História Universal, Constantino tornou ainda mais firme o poder imperial, ao adotar o Cristianismo como religião oficial do império. A Igreja contava com uma sólida organização, na qual o Estado poderia apoiar-se. Constantino foi declarado soberano por direito divino, designado por Deus , para que reinasse com autoridade absoluta. O palácio imperial passou a ser chamado Palácio Sagrado. Sagrada tornou-se a figura do imperador, e os objetos que o cercavam (Grandes Personagens, Justiniano , p. 191). Desde Constantino desenvolvia-se o cesaro papismo, sistema de relação entre a Igreja e o Estado, pelo qual o monarca tende a unir em sua pessoa também o poder religioso. O imperador tornou-se um ditador teológico . Justiniano chegou ao ponto de elaborar profissões de fé de interpretação dúbia. A Igreja devia subordinar-se aos interesses gerais do Estado (Idem, p. 198).


Ao ser estabelecida pelos apóstolos, a Igreja possuía uma organização simples, baseada no princípio de que os maiores deveriam ser os principais servos. Cerca do século III a Igreja começou a ter edifícios próprios para o culto e, embora não legalizada, começou a possuir propriedades. A sua organização complicou-se e tomou como modelo, não um exemplo bíblico, mas a estrutura administrativa do Império Romano, o qual era de inspiração pagã. A unidade básica principal na administração tornou-se a Diocese, assim como no Império Romano, a partir da reforma administrativa de Diocleciano. O interessante é que o chefe da Diocese Imperial chamava-se vigário. Cada diocese estava sob a administração de um bispo, que era auxiliado por um presbítero (assuntos espirituais) e por um diácono (assuntos materiais). Várias dioceses formavam uma província eclesiástica, cujo primeiro bispo ou chefe, geralmente o da capital da província, recebia o título de arcebispo. Formaram-se cinco grandes arcebispados: o de Jerusalém, o de Alexandria, o de Roma, o de Antioquia e o de Constantinopla. Com o passar dos tempos, os arcebispos destas cinco capitais e províncias equivalentes, passaram a usar o título de Patriarcas, para distingui-los ainda mais (O Processo Histórico..., pp. 85-86).


Prosseguindo com a mesma fonte histórica, destacamos: O bispo de Roma começou a pleitear e conseguir destaque e autoridade sobre todos os outros bispos. Houve uma luta acirrada entre os patriarcas para determinar qual teria autoridade e hegemonia sobre os demais. Vários fatores contribuíram para que tal posição ficasse com o bispo de Roma. O seu sucesso ao resistir a várias heresias e movimentos , deu-lhe uma alta reputação de ortodoxia, enquanto várias facções contendentes de várias partes freqüentemente apelaram ao bispo de Roma para decidir as suas dissidências. Já no final do segundo século, o bispo de Roma queria fazer valer a sua supremacia. Vítor I (189-199), que orientou às igrejas orientais celebrarem a páscoa nos domingos, não sendo atendido, tratou de excomungar os cristãos desobedientes . Júlio I tentou estabelecer, na metade do século IV, o bispo de Roma como o juiz dos bispos em contenda (Idem, p. 87).


No ano de 380 d. C. o imperador Teodósio proclama o Catolicismo religião oficial do Império Romano, pelo Edito de Tessalônica. Além de transformar o Cristianismo em verdadeira religião do Estado, Teodósio imprimiu-lhe um caráter autoritário. Sua política intervencionista fortaleceu a Igreja, dando-lhe condições de se afirmar como força autônoma. Após o massacre de Tessalônica, que ordenou em resposta a uma sedição (390), Teodósio foi excomungado por S. Ambrósio e viu-se obrigado a curvar diante das exigências do bispo de Roma. Às vésperas da morte de Teodósio, o Estado romano pela primeira vez reconheceu a existência de uma instituição cujo poderio superava o seu (Grandes Personagens, Átila , p. 34).


Com o decreto de Teodósio estabelecendo o Cristianismo como religião oficial, foi proscrito o paganismo. Isto não provocou grandes oposições, uma vez que todos os ritos do paganismo praticamente já estavam sendo observados pela igreja que pretendia ser cristã e que se auto-denominava romana. Todos os ritos similares entre paganismo e Cristianismo, as novas estruturas de dominação e poder sobre os fiéis, o ritualismo pagão nas celebrações cristãs, o enriquecimento, tudo isto já satisfazia ao mais acirrado espírito pagão.


Satanás, enfim, obtivera êxito em seu propósito de conquistar a mulher simbólica, que se fizera adúltera pela idolatria e demais práticas do paganismo romano. Agora, verdadeiramente, era apropriada a sua nova denominação de Igreja Católica Apostólica Romana.


Com a proscrição do paganismo, estava dado o primeiro passo para o estabelecimento do mistério da injustiça, referido por Paulo (II Tessalonicenses 2:7). Segundo as palavras do apóstolo, somente há um que resiste até que do meio seja tirado . Ele se referia ao poder religioso representado pelo paganismo oficial, que era o maior obstáculo ao estabelecimento de seu poder e autoridade.


A este respeito, a História se manifesta: O Império Romano unificado facilitava a expansão da nova fé, embora o paganismo, inclusive com o culto ao imperador, constituísse forte obstáculo (Grandes Personagens, Agostinho , p. 156). Ainda sobre o mesmo assunto: Caracterizada por seu intransigente paganismo e pela especulação filosófica, a Academia mantinha-se então como um ponto de resistência à crescente ascensão do Cristianismo (papado) (Idem, p. 39).


Agora, unicamente os povos arianos constituíam obstáculo ao completo domínio do bispo de Roma e de sua estrutura de poder já existente e madura para o seu propósito.

A Igreja Católica Apostólica Romana II

Aos poucos a autoridade do bispo de Roma foi sendo consolidada sobre todos os outros patriarcas e bispos. O próprio imperador Teodósio que se humilhara publicamente diante de Ambrósio, submetendo-se à penitência mencionada, foi quem, também, empregou a palavra PAPA, referindo-se ao bispo de Roma.


É interessante lembrar que, na evolução e consolidação da supremacia do bispo de Roma sobre todo o professo cristianismo, somente vários séculos depois da morte de Pedro foi ele citado como sendo o primeiro papa. Segundo esta afirmação os outros bispos de Roma seriam seus legítimos sucessores, pelos méritos de Jesus Cristo. Leão I (440-461), bispo de Roma, e, portanto, Papa, de acordo com o imperador Teodósio, foi quem primeiro estabeleceu esta pretensão.


Diz a História: Leão I foi o primeiro Bispo de Roma a proclamar que Pedro fora o primeiro papa, a defender a sucessão do papado a partir de Pedro, a vindicar a primazia diretamente de Jesus Cristo e a ser bem sucedido na aplicação destes princípios para a administração papal dos negócios da Igreja. Leão I deu à teoria do poder papal a sua forma final e fez desse poder uma realidade. Foi ele quem obteve um edito do imperador declarando que as decisões papais têm força de lei (Processo Histórico..., p. 88).


A Igreja Católica atribui, ainda, a esse papa, o título de Magno e a seguinte e absurda exclamação: A dignidade de Pedro não sofre diminuição por indigno que seja o seu sucessor . A mesma fonte afirma que logo após a sua morte teve ele culto de santo e, ainda, que S. Leão criou representantes permanentes seus nas côrtes, princípio das nunciaturas . (CORRÊA, Iran (Padre), Biografias dos Papas, S. D. B., p. 103).


O historiador Oliveira Lima, em sua História da Civilização, Edições Melhoramentos, destaca como título: A Igreja Sucessora do Império a Hierarquia. Diz o texto histórico: Escreve um historiador que na Igreja Cristã se inoculou com Constantino o espírito militar de Roma e foi ela (a Igreja) de fato dentro em pouco a mais legítima sucessora do Império Romano, modelando-se pela sua organização e crescendo como um grande Estado espiritual, servido por uma hierarquia, o qual se sobrepôs sobre o Estado temporal. Contando com o pontífice único e supremo, havia patriarcas, em número de cinco, no fim do século IV e residindo em Roma, Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém. Abaixo dos patriarcas estavam os arcebispos metropolitanos de províncias nas quais existia desde o século III um corpo episcopal, tendo-se congregado as primitivas irmandades assistidas pelos presbíteros e anciões e governados pelos bispos ou fiscais, do grego epíscopos. A expressão ecclesia é a mesma grega para assembléia popular. O termo latino PAPA (pai) aplicava-se no começo a todos os bispos e mesmo aos padres. Do século VI em diante foi que entrou a designar particularmente o bispo de Roma, a quem Gregório VII, pontífice romano, em 1. 076 o mandaria aplicar exclusivamente com o epíteto prefixo de Santo. Entre os patriarcas o de Roma sempre se considera o primaz, por instituição divina na pessoa de São Pedro e seus legítimos sucessores; esse primado se tornou visível pelo prestígio incomparável de Roma entre as cidades do mundo (Obra citada, p. 149).


Ao tornar-se a igreja de Roma a legítima sucessora do império, cumpriu-se o texto da profecia: e o dragão deu-lhe o seu poder, e o seu trono, e grande poderio (Apocalipse 13:2).


Dando seqüência à referência histórica mencionada, destacamos: Foi Constantino quem maior incentivo e facilidade prestou à convocação em Nicéia, na Ásia Menor, em 325, do primeiro Concílio Ecumênico, que definiu o credo cristão contra as primeiras heresias, das quais a mais famosa foi o arianismo; do nome do presbítero Ário que a suscitou, negando a igualdade de Deus filho com Deus pai e, portanto, a concepção ortodoxa . Com Teodósio, o Grande, (379-395) foi o Cristianismo feito religião do Estado, sendo proibidos os sacrifícios aos deuses pagãos, fechados seus templos e arrecadados os bens respectivos. Todo o patrocínio oficial foi dado ao Cristianismo, sendo facultado às suas associações recolherem doações e legados e contribuindo o próprio imperador com donativos em dinheiro e terras. Da pobreza passava assim a Igreja à abastança e a lei de Cristo sobrepujou de tal forma a lei de César, o poder espiritual tanto prestígio ganhou sobre o temporal, que no século IV, Santo Ambrósio proibiu a entrada no templo a Teodósio, o Grande, por haver ordenado o massacre dos habitantes de Tessalônica. O imperador, após confessar o pecado, teve que fazer penitência pública por oito meses à porta da Igreja (Obra citada, p. 149).


Todo o sistema administrativo que deu origem e sustento ao poder papal foi cuidadosamente organizado, tendo por base e inspiração o sistema imperial e pagão, como adiante se esclarece: Após isto, convém concluir, a organização do clero secular da Igreja passou por um verdadeiro processo de romanização . Assim como os sacerdotes pagãos de Roma se agruparam em três colégios , os PRELADOS, eleitores do Papa, chamados de Cardeais, passaram a formar o Sacro Colégio . Para aumentar as semelhanças com as estruturas do poder romano, o principal órgão administrativo e judiciário desta Igreja romanizada recebeu o nome de Cúria, antigo Tribunal Romano, onde se reunia o senado (Processo Histórico..., p. 87). Neste período, o antigo nome do chefe da religião pagã em Roma, PONTIFEX MAXIMUS, já é utilizado para designar os bispos de Roma, os Papas. Eles já haviam assumido totalmente o espírito babilônico, de serem a suprema ligação do homem com o céu (Obra citada, p. 88).


O período da Igreja Cristã representado pela carta à Igreja de Pérgamo, que significa elevação , iniciado no ano de 313 chegou ao fim no ano de 538, que marca o início do quarto período, representado pela carta à Igreja de Tiatira, que significa sacrifício de contrição e que marca a ascensão do bispo de Roma como cabeça universal de todas as Igrejas e detentor do poder temporal sobre todos os reinos do mundo.


Este é o mais longo período referido nas profecias do Livro da Revelação, o Apocalipse, e tem a duração de 1.260 anos. É ele o mais terrível e sangrento período, caracterizado pela intolerância religiosa e perseguição mortal desencadeada contra os que se opõem ao seu poder.


É nesse período que, removidos todos os obstáculos, o homem do pecado, o filho da perdição se assentará como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus , assumindo as suas características de Anticristo, isto é, aquele que, mudando a lei e as doutrinas de Cristo e perseguindo e matando os Seus verdadeiros seguidores, se intitula o Vigário, ou substituto de Cristo.

O Crescimento e Consolidação do Papado

Segundo o registro histórico, No ano de 330 deu-se a fundação da Nova Roma que é Constantinopla pelo imperador Constantino. Em 325, o primeiro Concílio Ecumênico - convocado pelo imperador Constantino, na cidade de Nicéia, condenou o arianismo, que negava a divindade de Jesus Cristo. Constantino havia reunificado o império e mudado a capital para Bizâncio, declarada a Capital Cristã (Grandes Personagens, Justiniano , p. 46). Teodósio I foi o último soberano a governar o Império Romano ainda unificado. Depois de sua morte, em 395, o território dividiu-se definitivamente em Império do Ocidente e do Oriente, governados, respectivamente, por seus filhos Honório e Arcádio. Leste e Oeste separaram-se para sempre (Obra citada, p. 191).


Em 476, Rômulo Augusto, imperador do Ocidente foi deposto pelo bárbaro hérulo Odoacro. O poder de Roma nunca mais existiria no Ocidente, através dos imperadores. Tal poder seria ainda exercido, e com muito maior intensidade, mas através dos papas. A queda do império do Ocidente, em 476, fôra irreversível. Bizâncio, sede do Império do Oriente, atingirá o seu poder máximo em 976-1025. Em 1.203 será conquistada pelos Cruzados, e em 1.453 liquidada pelos turcos otomanos (Idem, p. 204).


No quinto século era indiscutível o predomínio do bispo de Roma sobre todos os outros bispos e patriarcas e a sua autoridade estava quase que completamente consolidada sobre toda a cristandade. O único obstáculo eram as nações bárbaras arianas, os Hérulos, os Vândalos e os Ostrogodos, que rejeitavam e combatiam o seu poder e negavam a sua autoridade. Estes povos, após a eliminação do paganismo religioso romano declarado, constituíam a barreira final que restava ser derrubada, para o cumprimento do que Paulo havia predito.


A consolidação definitiva do papado como poder mundial verificou-se por influência do imperador Justiniano, conforme os testemunhos da História: Em 527 Justiniano torna-se o imperador romano cristão (Grandes Personagens, Justiniano , p. 46). Segundo a mesma fonte histórica, já em 533, em uma carta ao Papa João II, Justiniano reafirmava a sua fé católica e seu repúdio à heresia monofisita (ariana). Seu objetivo era firmar um pacto de autoridade com a sede romana da Igreja, pois a sede oriental já estava integrada no império (Obra citada, p. 195-196).


Nesse ano Justiniano decretou ser o papa a cabeça universal de todas as igrejas. Segundo o mesmo decreto, toda obediência deveria ser prestada ao bispo de Roma. Entretanto, tal decreto somente pôde entrar em vigor no mês de março do ano de 538, com a derrota dos Ostrogodos, último povo bárbaro ariano que ainda desafiava a autoridade papal.


São as seguintes as dez principais nações bárbaras, já mencionadas pela profecia, e que se instalaram no Império do Ocidente, aniquilando-o, ocupando-o, e constituindo o que viriam a ser as nações européias modernas: os FRANCOS (França); os ANGLO-SAXÕES (Inglaterra); os ALAMANOS (Alemanha); os SUEVOS (Portugal); os VISIGODOS (Espanha); os BURGÚNDIOS (Suíça); os LOMBARDOS (Itália); os HÉRULOS, os VÂNDALOS e os OSTROGODOS, estes três últimos, arianos, destruídos por influência do papado.


A profecia de Daniel já registrava tal acontecimento, há mais de um milênio. Ao mencionar o surgimento do quarto reino, ela deixa claro que deste reino se levantarão dez reinos e que depois destes se levantará um outro diferente, que derrubará três deles. É bastante clara a referência ao papado e aos três reinos arianos subvertidos e derrubados por sua influência direta.


Repetindo os textos bíblicos: O quarto animal, terrível e espantoso (...) era diferente de todos os animais que apareceram antes dele, e tinha dez pontas (Daniel 7:7). Estando eu considerando as pontas, eis que entre elas subiu outra ponta pequena, diante da qual três das primeiras foram arrancadas; e eis que nesta ponta havia olhos, como olhos de homem, e uma boca que falava grandiosamente (verso 8). A expressão falava grandiosamente está em harmonia com as outras referências bíblicas que caracterizam este poder como apóstata e blasfemo, isto é, que profere grandes palavras de blasfêmia.


Eis a seqüência do texto sagrado: Então tive desejo de conhecer a verdade a respeito do quarto animal, que era diferente de todos os outros, muito terrível (...) e também das dez pontas que tinha na cabeça e da outra que subia, de diante da qual caíram três, que tinha olhos, e uma boca que falava grandiosamente, e cujo parecer era mais firme do que o das suas companheiras (versos 19 e 20).


Referindo-se à ponta pequena que subia, isto é, crescia, o profeta afirma: Eu olhava, e eis que esta ponta fazia guerra contra os santos, e os vencia (verso 21). Na seqüência, vem a explicação: O quarto animal será o quarto reino na Terra (...) E quanto às dez pontas, daquele mesmo reino se levantarão dez reis; e depois deles se levantará outro, o qual será diferente dos primeiros, e abaterá a três reis (versos 23 e 24).


O verso seguinte revela todas as características que tiveram cumprimento com o surgimento do papado: E proferirá palavras contra o Altíssimo, e destruirá os Santos do Altíssimo, e cuidará em mudar os tempos e a lei; e eles serão entregues na sua mão por um tempo, e tempos, e metade de um tempo (verso 25). Todas estas dimensões do poder anticristão serão analisadas detidamente neste estudo que demonstrará, sem nenhuma dúvida, o cumprimento da revelação divina na história do papado.

As Três Pontas Caídas A Profecia Cumprida

O reino hérulo foi o primeiro a cair. Odoacro, seu último rei, imiscuíra-se nos negócios do papado, o que foi por ele considerado intolerável. Foi Odoacro o autor de um decreto promulgado por ocasião da eleição do papa Félix II, em 485, impingindo ao papa algumas proibições, sob anátema. Em princípio o papado pareceu aceitar tal decreto, sem protesto. Foi, entretanto, fortemente condenado em um sínodo pelo papa Simaco (502), como uma inescusável interferência do poder civil contra os interesses da igreja (Enciclopédia Anglo Americana, Odoacro ). O papa Félix II concertou com o imperador católico do Oriente, Zenon, o imediato extermínio de Odoacro e seu reino. Em 488 envia Zenon à Itália a Teodorico e seus Ostrogodos, que estavam sob suas ordens no Oriente, com o propósito decidido de atender à solicitação de Félix II e dar fim ao reino de Odoacro (MELLO, Araceli S. Testemunhos Históricos das Profecias de Daniel, p. 387).


Após uma seqüência de batalhas, finda em 495 e para sempre o efêmero reinado dos Hérulos, sob Odoâcro, na Itália. Estava assim desarraigado o primeiro sério e imprudente obstáculo à supremacia temporal do papado no Velho Continente e no mundo (Ibidem).


O reino vândalo do norte da África foi o segundo alvo ariano do papado. Genserico, o seu rei, saqueou Roma em 455 e pôs em cheque o crescente poder papal. Nada valeu a intervenção do papa Leão I junto ao rei ariano para poupar a milenária cidade da terrível pilhagem que durou quatorze dias. Diz a História: Genserico quis extirpar o catolicismo, aplicando-lhe as leis promulgadas por outros príncipes contra os hereges, e só se abrandou a pedido de Zenon (CANTU, C. História Universal, vol. VI, p. 432).


Justiniano, o imperador do Oriente que elevou o papa à categoria de Cabeça das Igrejas determinou-se a por um fim aos reinos arianos. Perseguindo no interior o arianismo, queria ser no exterior o salvador dos católicos, libertando-os primeiro da escravidão dos vândalos (ONCKEN, G. História Universal, vol. VI, p. 162). Belizário foi o grande general bizantino destacado por Justiniano para a empresa contra os vândalos. Em apenas três meses e somente em duas batalhas principais, desapareceu o reino de Genserico. Estava, assim, liquidado o segundo obstáculo da carreira vitoriosa temporal do papado (Testemunhos Históricos, p. 388).


O terceiro e último obstáculo a ser vencido pelo papado foi o reino dos ostrogodos. Reinava então na Itália, Teodorico, ostrogodo, que era ariano. O papa Simaco (498-514) subira ao trono pontifício por influência sua. As relações entre o rei e o papa, entretanto, se tornaram críticas. O papa reuniu um sínodo de 115 bispos para condenar o rei por sua interferência nos negócios da Igreja.


Escreveu-lhe uma atrevida carta, em que compara a dignidade de um bispo com um imperador, alegando dispor dos bens do céu e que a sua dignidade pontifícia é superior a todas as grandezas da Terra. Diz, ainda, a carta: Se não sentis veneração por nossa pessoa, como podereis firmar o vosso domínio sobre povos e usar de privilégios de uma religião cujas leis desprezais? (Os Crimes dos Papas, vol. 1, p. 123). Isto, e mais a ameaça de excomunhão, talvez tenham sido a causa da morte deste papa, ordenada por Teodorico.


Em meio a esta tensa situação, veio a morrer o rei. O desfecho desta cruenta crise entre os ostrogodos e o papado verificou-se entre Vitiges, o terceiro sucessor de Teodorico, e o exército de Belizário enviado por Justiniano. Após aniquilar os vândalos no norte da África, passa Belizário à Itália para dar combate aos ostrogodos arianos. Depois de fazer capitular Nápoles, Belizário e seu exército foram entusiasticamente recebidos em Roma. Vitiges acode com 150.000 homens e estabelece o cerco da cidade. Neste histórico assédio de Roma empreenderam os sitiantes sessenta e nove ações entre assaltos e sortidas, e outros combates. Mas cada tentativa fôra desbaratada pela intrépida vigilância de Belizário e sua tropa de veteranos. Destituídos de esperança e subsistência, os ostrogodos, outrora um exército tão forte e poderoso, clamorosamente apressaram-se a levantar o cerco e retiraram-se de Roma, queimando suas tendas. Tumultuosamente repassaram o Milvian, perseguidos pelo general romano que lhes infligiu uma severa e vergonhosa derrota. Um ano e nove dias havia durado o cerco de Roma, suspenso por Vitiges em março do ano 538 (Declínio e Queda do Império Romano, vol. II, p. 541; Testemunhos Históricos, p. 390).


Cumpriram-se, assim, fiel e integralmente, todas as especificações da profecia que indicava a queda das três pontas , ou três reinos, que impediam a consolidação plena do poderio papal.


A partir desta data, março do ano 538, nada mais havia no caminho do papado que impedisse o completo exercício de toda a sua autoridade espiritual e temporal. Termina, aí, o terceiro período da Igreja, de Pérgamo ou elevação e tem início o quarto, representado pela carta à Igreja de Tiatira, que significa sacrifício de contrição . As satânicas perseguições aos cristãos, promovidas pelos imperadores, ficaram no passado.


No entanto, mais terríveis perseguições estavam reservadas aos Santos do Altíssimo , conforme as profecias inspiradas. Avizinhavam-se os tempos da completa apostasia e afastamento de todos os princípios ensinados por Jesus Cristo que ainda não haviam sido mudados pelo poder religioso anticristão assentado sobre Roma.


Aproximavam-se os sombrios tempos da inquisição, das fogueiras e torturas contra todos os que discordassem da autoridade e doutrinas do Anticristo. Aqueles que são chamados por Deus, através de Sua Santa Palavra, de Santos do Altíssimo (Daniel 7:25), são perseguidos, degradados e mortos, considerados por Roma como hereges.


Em contrapartida, ao homem que o mundo chamava e chama pelo título de Sua Santidade , o Deus Altíssimo chama de o Iníquo e Homem do Pecado, Filho da Perdição (II Tessalonicenses 2:3 e 8).


As pernas de ferro da estátua simbólica já mencionada representam o Império Romano, antes de sua divisão. A Inspiração apropriadamente menciona os dez dedos dos pés da estátua como os dez reinos em que o Império foi dividido, que têm a mesma significação dos dez chifres da besta romana (Daniel 2:33 e 40-43).


O animal terrível e espantoso, a besta que representa o mesmo Império, descreve com maior riqueza de detalhes o quarto império da profecia. Dizem as Escrituras que os animais simbólicos subiam do mar (Daniel 7:2). O mar , aqui simbolizado, representa povos, e multidões, e nações, e línguas (Apocalipse 17:15).


A ponta pequena, cujas blasfêmias são representadas por uma boca que falava grandiosamente , é o papado. A seu respeito o profeta, assombrado, deu especial atenção, relatando não somente a sua origem, mas também o seu destino final: Então estive olhando, por causa da voz das grandes palavras que provinha da ponta; estive olhando até que o animal foi morto, e o seu corpo desfeito, e entregue para ser queimado pelo fogo (Daniel 7:7-8 e 11).


Observe-se a perfeita harmonia entre as diversas referências da Palavra de Deus. Paulo, referindo-se ao mesmo poder, afirma que ele durará até ao fim, quando será destruído pelo esplendor da vinda do Senhor. Daniel abrange todo o período, desde a sua instituição, até o estabelecimento do reino do Senhor, na Sua vinda, quando ele será destruído (versos 11 e 14).


Lembrando do exame da profecia de Daniel, que o verso 22, bem como os versos 9 e 10 do capítulo 7, referem-se ao estabelecimento do juízo, objeto do estudo e título do capítulo n° 4 desta série, insistimos na referência ao quarto animal ou quarto reino, na explanação do profeta: Disse assim: o quarto animal será o quarto reino na Terra, o qual será diferente de todos os reinos; e devorará toda a Terra, e a pisará aos pés, e a fará em pedaços. E, quanto às dez pontas, daquele mesmo reino se levantarão dez reis; e depois deles se levantará outro, o qual será diferente dos primeiros, e abaterá a três reis (Daniel 7:23- 24).


A clareza meridiana do cumprimento histórico não deixa dúvidas na identificação de todos os elementos envolvidos na profecia. Os dez reinos em que o Império Romano se dividiu já foram mencionados. A ponta pequena é o papado, como mostraremos através de incontáveis provas históricas que não podem ser negadas. Conforme já foi visto, também, as três pontas ou três reinos que se opunham ao mesmo foram, por sua influência, destruídos.


Vamos destacar o verso seguinte, para compará-lo mais adiante, com o mesmo assunto, tratado por outro profeta, João, do Apocalipse: E proferirá palavras contra o Altíssimo, e destruirá os santos do Altíssimo, e cuidará em mudar os tempos e a lei; e eles serão entregues em sua mão por um tempo, e tempos, e metade de um tempo (verso 25).

O Poder Absoluto do Papado, a Partir de Gregório VII

O crescimento do poder papal foi constante e ininterrupto, a partir da destruição dos três reinos bárbaros mencionados. Conforme a predição de Paulo, existia algo e era a oposição ariana que impedia a manifestação do iníquo . Após a sua remoção, entretanto, nada mais haveria para atrapalhar o seu avanço.


O decreto de Justiniano, promulgado em 533, entrou em vigor no ano de 538 e o bispo de Roma foi declarado o chefe universal de todas as igrejas. Com o apoio do imperador e dos francos Clodoveu, seu rei havia se convertido, juntamente com os seus soldados à fé católica o poder papal estava solidamente estabelecido.


Eis o que diz a História: A conversão de Clóvis (ou Clodoveu), líder dos francos, à fé romana, cerca do ano 496, quando a maior parte dos invasores bárbaros eram ainda arianos, deu ao papa um forte aliado político, pronto a lutar pela igreja. Por mais de dois séculos, a espada da França, a filha mais velha do papado, foi um agente eficaz para a conversão dos homens à Igreja de Roma, e para a manutenção da autoridade papal (A História do Homem..., p. 88).


Eis a confirmação deste fato, por outra fonte histórica: Em função de conveniências, Clóvis acabou casando com Clotilde, uma princesa cristã dos burgúndios, e batizou-se católico (Grandes Personagens, Carlos Magno , p. 222).


Mas, apesar de exercerem grande poder e influência em todos os setores e atividades, os papas ainda eram submissos ao imperador, que era o verdadeiro chefe da igreja. Esta situação persistiu até à eleição de Gregório VII. O relato histórico afirma, referindo-se ao tempo que antecedeu à coroação desse papa: os dois poderes, espiritual e temporal, a Igreja e o Estado, estão indissoluvelmente unidos. Mas o segundo domina o primeiro (Grandes Personagens, Gregório VII , p. 239).


Na época referida, já o império romano do Ocidente ruíra e em seu lugar havia sido estabelecido o Sacro Império Romano-Germânico, cujo soberano tinha autoridade para escolher e coroar o papa. A História assim o afirma: Otton, o Grande, coroado rei da Alemanha pelo papa e criador do Sacro Império Romano-germânico, estabelecera, mais de meio século antes, com seu Privilegium (962), uma espécie de acordo pelo qual o imperador e seus sucessores tinham o direito de eleger o pontífice (Ibidem).


Na mesma época, a religião era apenas um amontoado de ritos e cerimônias, baseada em lendas e superstições que dominavam e oprimiam a mentalidade simples e atrasada do povo. A sede apostólica (Roma), centro da cristandade, também está reduzida a um bispado, que o imperador pode doar ou retirar à vontade. É um rico bispado, formado por vários territórios .


O clero era formado principalmente por leigos de famílias nobres e isto gerava dois graves problemas: o nicolaismo (desregramento moral) e a simonia (comércio de objetos sagrados). Quando um soberano investe um seu vassalo de um feudo eclesiástico (uma abadia, uma igreja que tenha construído), confere-lhe também a investidura religiosa, isto é, torna-o bispo ou abade, prerrogativa que por antigos costumes era do papa. E faz mais: vende o feudo a quem lhe der o melhor preço. Comprá-lo é um ótimo investimento, pelas terras que lhe vêm anexas. O feudo eclesiástico não é hereditário. As grandes famílias adquirem bispados, abadias, às vezes a própria sede apostólica, para seus filhos caçulas. Naturalmente, os prelados ­destas igrejas e abadias privadas (chamadas simoníacas, nome que se originou de Simão, o mago que tentou comprar de São Pedro o segredo de seus milagres) estão bem distantes de serem homens dedicados a Deus: vivem no luxo, interessam-se mais pelas guerras que pela salvação das almas, vão à caça, têm mulher e muitas vezes concubinas, esbanjam os bens da Igreja em festas ou para os dotes de suas filhas ilegítimas. O sentimento religioso resvala para a superstição e o fanatismo. Não se hesita em tornar difícil a vida dos que têm fama de santo; para não perder as possíveis relíquias, matam-nos antes que mudem de país. A justiça se reduz a provas de faquir (como a do fogo), a ciência mistura-se com a magia (Ibidem).


Para que se entenda perfeitamente o que ocorria nessa época invocamos outro testemunho da História: Na Europa do século XI a Igreja era a guardiã das altas aspirações, o repositório da verdade espiritual. Em termos práticos, tinha o monopólio da educação, dirigindo as únicas escolas e possuindo, nas bibliotecas dos mosteiros, a maioria dos livros existentes. Os poucos que sabiam ler e escrever eram quase sempre religiosos. Todos os homens, por mais poderosos que fossem, buscavam na igreja, a esperança de salvação na outra vida.


Muitos reis e nobres procuravam aliviar o peso dos pecados fundando uma igreja ou abadia onde se rezaria por suas almas; outros doavam mais terras às instituições já existentes. Dessa forma, a Igreja tornou-se, no decorrer dos séculos, uma grande proprietária de terras, controlando latifúndios tão extensos e ricos quanto os dos barões mais poderosos. A Igreja crescera e prosperara graças ao favor dos poderosos e sua posição dependia da boa vontade deles.


Os magnatas leigos tinham as armas e, diante de dificuldades, podiam usá-las para fazer valer sua vontade. O clero passara a ser controlado cada vez mais pelos magnatas locais. Até mesmo o papado fora comprado e vendido entre clãs concorrentes da nobreza romana. A simonia prática de comprar cargos na Igreja era corrente e a qualidade do clero analogamente baixa. Com freqüência escarnecia-se do voto de castidade e muitos padres devotavam mais tempo às caçadas do que aos cuidados do seu rebanho. A podridão chegou ao topo: um papa do século X, João XII foi acusado de um catálogo de culpas que incluíam incêndio criminoso e fornicação, bem como castrar rivais e beber publicamente à saúde do diabo (História em Revista, Editores de Time-Life , Luzes do Oriente 1.000-1.100, pp. 68 e 69, destaques acrescentados).


A crônica católica chama este papa de fraco e reconhece que sua eleição foi política. Ele era filho do príncipe Alberico II, que obtivera, antes de sua morte, o juramento dos magnatas romanos de que elegeriam o filho, o que aconteceu quando ele tinha 20 anos. A mesma fonte católica oficial faz referências a baixezas incríveis e de haver ele erguido brindes a Satanás (CORREA, Iran (padre), Biografias dos Papas, Guardiães Vigilantes dos Textos Sagrados Através dos Séculos, S. D. B., vol. XVIII, p. 273).


A Revista VEJA, Edição 1.445, de 22.05.96, referindo-se a esse papa, na relação dos Papas que fizeram História , revela: João XII (955-964) Considerado um dos piores papas de toda a história da Igreja, sua corte era repleta de amantes e criminosos. Morreu assassinado (p. 48).


A cerimônia de coroação de reis e imperadores pelo papa revestia-se de natureza meramente ritual e simbólica. Mas, com o aumento do seu poder e influência, o papado passou a reivindicar o direito de indicar os soberanos.


Prossegue o testemunho histórico: Eram então os imperadores coroados pelo papa. Quando os imperadores eram fortes, eleição e coroação eram simples ritual de ascensão. Porém, na metade do século XI, ergueram-se vozes defendendo não ser a coroação pelo papa uma pura formalidade. Os imperadores eram eleitos para cumprir o dever sagrado de servir à Igreja, afirmavam alguns clérigos; deviam, portanto, fidelidade a seu líder, o papa (História em Revista, p. 69).


A fim de que haja uma melhor compreensão a respeito do espírito e costumes dessa época, é relevante o registro histórico: Por esse tempo, há uma séria disputa pela chefia da Igreja. A facção romana dos TÚSCULOS se apodera do pontificado, elegendo papa um jovem de doze anos, com o nome de Benedito IX (ou Bento IX). Os escândalos que provoca são de tal ordem que a facção romana oponente aproveita a revolta popular para eleger Silvestre III. Enquanto isso, porém, Benedito IX vende sua tiara a João Graciano, padre muito rico, que em 1.045 torna-se Gregório VI .


Como Benedito manteve para si o título e uma grande parte das rendas papais, existem contemporaneamente três papas. Para acabar com este cisma, Henrique III, rei da Alemanha, resolve intervir. Segue para a Itália e convoca um concílio em Sutri, perante o qual destitui os três. Depois, entrando em Roma no dia de natal, nomeia novo pontífice Suidger, bispo alemão de Bamberg, que assume com o nome de Clemente II. De suas mãos recebe a coroa imperial do Sacro Império.


No concílio seguinte, faz decretar que daí por diante nem o clero nem o povo romano poderão eleger e consagrar qualquer pontífice, antes que o imperador tenha escolhido e aprovado aquele que se deve nomear. A Igreja é enfeudada pelo imperador. Clemente é apenas o primeiro de uma série de papas escolhidos pessoalmente por Henrique III (Grandes Personagens, Gregório VII , pp. 239-240, destaques acrescentados).


A própria Igreja Católica reconhece que o imperador é quem escolhia os papas: Para evitar novas lutas entre as orgulhosas famílias patrícias propôs para pontífice a Suidger, bispo de Bamberg. Foi o segundo papa alemão e chamou-se Clemente II. Aproveitou-se, porém, Henrique, para daí em diante nomear pessoalmente os papas. Seus escolhidos, em número de quatro, foram dignos e competentes; entretanto, essa interferência imperial era um atentado reprovável e perigoso à liberdade da Igreja (CORREA, Iran (Padre), Biografias dos Papas, p. 305).


O que a referência católica não menciona é que todos os cinco papas alemães impostos pelo imperador eram membros da nobreza e da aristocracia, oriundos de famílias de condes, indicados por questões de interesse político e material. Apesar disso, a citada igreja insiste em afirmar que a escolha dos papas se dá por influência do Espírito Santo, o que por si só, mais do que constituir-se numa grande mentira, é também, uma blasfêmia.


Esta situação durou até que assumiu o trono pontifício o papa Gregório VII, que se chamava Hildebrando, muito conhecido e poderoso por ter sido auxiliar direto de cinco papas e que antes de ser escolhido era conhecido como a cabeça dirigente da igreja . A mesma Igreja Católica reconhece que os cardeais e o imperador não elegiam pontífice sem sua opinião (Biografia dos Papas, p. 319).


Segundo a mesma fonte, foi seu mestre João Graciano, o futuro Gregório VI, a quem Hildebrando acompanhou no desterro, e em cuja memória, agradecido, se chamou Gregório VII (Ibidem). Seu nome foi escolhido, pois, em memória de seu mestre, João Graciano, que comprara o papado por dinheiro e que se chamou Gregório VI.


A própria Igreja Católica, através da mesma fonte, afirma: O arcipreste romano João Graciano, assumiu o nome de Gregório VI. A fim de livrar a Igreja de grandes males, oferecera ingente soma para que Bento IX abandonasse pacificamente o trono pontifício. Este meio ilícito não impediu que fosse reconhecido pela parte melhor da Igreja e até pela nobreza, exasperada contra a família dos Condes Túsculos (Idem, p. 303).


O programa de reformas implantado por Gregório VII atingiu profundamente todo o sistema corrupto vigente em todo o clero e pretendeu mudar radicalmente a relação existente entre a igreja e a aristocracia então dominante no mundo. Os soberanos, anteriormente, criavam os cargos eclesiásticos e nomeavam para eles seus parentes e protegidos. Estes cargos davam aos que neles eram investidos, enormes riquezas e grande poder.


A História registra a reforma implantada e suas conseqüências: Eleito (Hildebrando) papa em 1.073, com o título de Gregório VII, lançou um programa de reformas, depondo padres que tinham comprado seus postos e proibindo que clérigos casados celebrassem missa. E, mais controvertido ainda, anunciou que excomungaria os leigos que nomeassem clérigos. Gregório VII acreditava que era imperativo negar esse direito (de investidura) ao imperador ou a qualquer outro governante, pois a experiência mostrava que bispos designados pelos magnatas leigos não tinham independência de ação nem as qualidades adequadas para a liderança espiritual. O palco estava montado para o conflito aberto (História em Revista, p. 70-71).


A reforma que pretendeu realizar não foi aceita, entretanto, pela maioria do clero. Se a tática da contemporização falhou, o jeito é mudá-la. Gregório adota as ações radicais. Convoca vários bispos para se justificarem, e os que não comparecem são sumariamente suspensos, quando não expulsos e excomungados. Realiza investigações sobre o comportamento pessoal dos clérigos de quem suspeita. Reivindica para si a única autoridade de decidir sobre a fé de cada um e sobre o valor dos sacramentos ministrados por seus subordinados. Vai mais longe. Em 1.075, provoca a Querela das Investiduras. Segundo o decreto que fez promulgar por um concílio nesse ano, fica proibido, sob pena de excomunhão, que qualquer clérigo receba a investidura de um bispado, abadia ou igreja das mãos da realeza ou dos nobres feudais (Grandes Personagens, Gregório VII , p. 247).


Mas as coisas não seriam tão simples, como o papa imaginara. Os problemas maiores se dão com a Alemanha, onde bispos e abades são proprietários de grandes extensões de terra. Abandonar a prerrogativa de nomeação dos dignitários eclesiásticos equivale, para o rei, a renunciar ao pouco poder que lhe resta. Assim, Henrique IV continua a ignorar o decreto de 1.075 (Ibidem).


O conflito entre papa e imperador seria sem tréguas e do seu resultado dependeria o destino de cada um. Henrique IV, o imperador, sabia disso. Jogando todas as suas cartadas, sem medir conseqüências, depôs ele o papa. Este, em represália, contra-atacou duramente, lançando sobre ele a mais temível de todas as condenações: a excomunhão. E mais, liberou a todos os seus súditos do voto de obediência ao soberano.


Aquele que se mantivesse fiel ao imperador também seria excomungado. Foi o quanto bastou para que Henrique IV se visse só, abandonado por todos, completamente subjugado pelo decreto papal. Este ato mudou a feição da História, que registra: Na abertura do concílio de Roma, em fevereiro de 1.076, Rolando chega com a carta de Henrique IV, transmite a deposição de Gregório e convoca o clero ali reunido a comparecer diante do rei alemão, para receber um novo papa. Rolando é atacado furiosamente pelos sacerdotes, e só não morre porque o próprio Gregório intercede em seu favor. No dia seguinte, Gregório pronuncia solenemente a excomunhão e deposição de Henrique IV.: Interdito o governo de todo o reino teutônico e da Itália ao Rei Henrique (...); desligo todos os cristãos do vínculo de juramento que lhe fizeram ou farão, e proíbo-os de obedecer-lhe como se fosse o seu rei (Idem, p. 248).


Fortalecido o seu poderio pelo pleno sucesso de sua decisão o papa assumiu definitivamente o domínio absoluto da situação: Em fevereiro de 1.081, Gregório reúne o concílio da quaresma e renova o ato de excomunhão contra o rei alemão. Numa bula, reafirma seus ideais de um governo teocrático universal, cujas linhas básicas ele já estabelecera nos dictatus papae, anotações pessoais que, entre outros princípios, afirmam: Somente o papa pode ostentar insígnias imperiais. (...) É-lhe permitido depor os imperadores. (...) Sua sentença não pode ser reformada por ninguém. (...) Ele não deverá ser julgado por ninguém. (...) A Igreja Romana jamais errou e, conforme o testemunho da escritura, jamais errará. (...) O papa pode desobrigar os súditos de juramento de fidelidade prestado aos injustos (Idem, p. 251).


O imperador, para salvar a sua coroa, teve de se humilhar diante do papa e suplicar-lhe o perdão, renovando a ele os seus votos de obediência e submissão e manifestando o seu profundo arrependimento pela audácia de desafiar o altivo pontífice.


O papa chegara a temer que o imperador lançasse contra ele o que restara do exército imperial. Combinou-se um encontro entre ambos, que a História assim registrou: Quando Henrique apareceu, ficou claro que os temores do papa eram infundados. O imperador percebera que sua posição era politicamente insustentável; sem a absolvição do papa perderia a coroa. Assim, não viera para prender Gregório, mas para implorar perdão. Para pedir por ele, trouxera seu padrinho, Hugo de Cluny, amigo pessoal de Gregório e um dos poucos homens cujas palavras poderiam sensibilizar o empedernido prelado supremo.


E assim realizou-se o encontro mais dramático do século XI. Durante três dias gelados de janeiro, o mais poderoso monarca do mundo ocidental aguardou em pé e descalço na neve, dentro da segunda muralha do castelo, vestindo a túnica grosseira de um pecador arrependido. Dentro do edifício o abade suplicava a clemência de Gregório. Gregório sabia que estava num beco sem saída. Se absolvesse Henrique estaria devolvendo o trono a seu inimigo; mas, como homem de Deus, não poderia rejeitar a um penitente. Acabou por conceder a absolvição.


Mas as questões maiores levantadas pela nova posição da Igreja permaneceram, pois as audaciosas reivindicações de Gregório tinham mudado para sempre a balança do poder entre as autoridades leigas e as espirituais. Ele talvez tenha sentido na morte a amargura da derrota, mas seu legado para a Igreja seria uma época de ascendência do papado que perduraria por toda a Idade Média (História em Revista, p. 73).


Outra fonte, assim relata o dramático acontecimento: O encontro é na capela do castelo. O mais poderoso rei da Europa, em andrajos, pálido, a voz enfraquecida pelo voluntário sofrimento, prostra-se aos pés do papa, suplicando perdão, jurando fidelidade. Por momentos, a cena chega a deliciar Gregório VII; é a síntese de seu sonho máximo, o poder temporal incondicionalmente submisso ao poder espiritual num império em que a autoridade suprema será exercida pela Igreja (Grandes Personagens, Gregório VII , p. 237).


A conclusão da história é definitiva, e não deixa dúvidas a respeito do resultado desta luta de interesses e de quem a venceu: No passado, os imperadores tinham feito e desfeito papas; agora a Igreja daria o troco (História em Revista, p. 71).


No princípio os imperadores romanos dominavam a Igreja e, as questões religiosas. Com o passar dos tempos houve um equilíbrio de poder, quando o predomínio era ocasional, dependendo da influência pessoal e da capacidade de cada papa ou imperador.


Depois do papa Gregório VII, entretanto, a balança do poder pendeu para Roma, que dominou absoluta sobre os reis da Terra, agora através dos papas, exceto por raras exceções e em algumas ocasiões especiais, que é o que demonstram os registros e testemunhos históricos insuspeitos: No Ocidente empobrecido, afastado das importantes rotas comerciais que asseguravam a riqueza de Constantinopla, a autoridade imperial diluiu-se, substituída pela concentração do poder em mãos de grandes proprietários de terras. Somente a Igreja sobreviveria, conservando, em sua estrutura baseada na divisão administrativa do império, os vestígios da civilização romana. Somente a Igreja dispunha de elementos intelectualmente capazes, submetidos a uma rígida organização, de modo a conservar a centralização que caracterizara o mundo romano. A vontade única do imperador foi aos poucos substituída pela vontade única do bispo de Roma (Grandes Personagens, Santo Agostinho , p. 148).


Agora, as honrarias e os títulos devidos aos imperadores passaram a ser transferidas para os papas. O título de Sumo Pontífice que era exclusivo dos imperadores passou a ser ostentado pelo bispo de Roma, que o mantém até hoje.

O Cordeiro de Deus

Notícias

Veja Também

Últimos Assuntos

Este site não faz proselitismo religioso. Não é patrocinado ou monitorado por nenhuma instituição de qualquer natureza, religiosa ou não. Não tem interesse financeiro de qualquer espécie e nem objetiva qualquer vantagem material. Seu único objetivo é obedecer à ordem do Mestre; "Ide e pregai este evangelho... e... de graça recebeste, de graça dai"

(Marcos 16:15 e Mateus 10:8)

Matérias Postadas