Três anos e meio após a morte, ressurreição e ascensão de Jesus, com o apedrejamento de Estevão, no ano 34 d. C., abateu-se uma terrível perseguição sobre os apóstolos e os primeiros cristãos, em Jerusalém. Por esta razão, todos foram dispersos pelas terras da Judéia e Samaria (Atos 8:1) e o Evangelho começou a ser pregado em outros lugares. O Espírito Santo era Quem conduzia e inspirava os seguidores de Cristo na sublime e sobre-humana tarefa de levar a mensagem de salvação ao mundo.


A conversão, no caminho de Damasco, daquele que era o maior perseguidor dos discípulos de Cristo Saulo e que teve o seu nome mudado para Paulo, ficando conhecido como o Apóstolo dos Gentios veio trazer um inestimável reforço na pregação do Evangelho Eterno. Milhares de pessoas aceitavam a fé no Crucificado.


A mensagem central era a salvação eterna, a ser consumada por ocasião da segunda vinda de Jesus, conforme a Sua promessa feita poucos anos antes: Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em Mim. Na casa de Meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, Eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos lugar. E, se Eu for, e vos preparar lugar virei outra vez, e vos levarei para Mim mesmo, para que onde Eu estiver estejais vós também (S. João 14:1-3).


A esperança dos seguidores de Cristo era a Sua volta ao mundo, o que, segundo criam, deveria acontecer já em seus dias. Mas não deveria ser assim, conforme Paulo explicou em sua segunda carta aos Tessalonicenses. Muitas coisas deveriam acontecer antes da vinda do Senhor. O Evangelho Eterno seria pervertido e as suas verdades jogadas por terra. Enfim, muitos séculos separavam o seu tempo do retorno do Senhor a este mundo.


Esta mensagem foi-lhes enviada para que não desanimassem, visto que muitos dos irmãos morriam sem testemunhar o cumprimento da promessa e a realização de suas mais acalentadas esperanças.


Paulo escreveu: Ora, irmãos, rogamos-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com Ele, que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo estivesse já perto. Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição; o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora, de sorte que se assentará como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus. Não vos lembrais de que estas coisas vos dizia quando ainda estava convosco? E agora vós sabeis o que o detém, para que a seu próprio tempo seja manifestado. Porque já o mistério da injustiça opera: somente há um que agora resiste até que do meio seja tirado; e então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da Sua boca, e aniquilará pelo esplendor da Sua vinda; a esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E por isso Deus enviará a operação do erro, para que creiam a mentira; para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniqüidade (II Tessalonicenses 2:1-12).


Esta mensagem de Paulo esclarece aos seus contemporâneos o equívoco de sua esperança na vinda imediata do Senhor, transferindo esta mesma esperança para um futuro de onde seriam resgatados da sepultura e da morte pela ressurreição, no dia da Sua vinda (1Coríntios 15:23). O apóstolo identifica, sem sombra de dúvidas, o grande poder apóstata que estava para se manifestar, e que seria estabelecido quando fosse removido o obstáculo que impedia a sua ascensão, o que iremos considerar.


Este poder, conforme atestam comentaristas e teólogos católicos, não representa uma única pessoa, mas uma inumerável série de pessoas que, ininterruptamente, ao longo dos séculos, vêm sucessivamente afrontando os Céus. Eis o comentário do PONTIFÍCIO INSTITUTO BÍBLICO DE ROMA, através da Bíblia Sagrada, Edições Paulinas, 1969, ao analisar o texto antes referido: 3.5 O tempo da parousia (segundo advento de Cristo) não é iminente, pois antes devem suceder os sinais precursores, de que Paulo já falara em sua instrução oral. As suas palavras deviam ser claras para os seus destinatários, recordando-se elas de tudo o que fôra ensinado; para nós, ao contrário, são assaz obscuras e quase indecifráveis .


Ora, para estes comentaristas podem ser indecifráveis e obscuras as palavras de Paulo. Para os estudiosos das Sagradas Escrituras e das profecias de Deus, entretanto, estas palavras revestem-se de uma clareza meridiana. Eis a continuação do comentário citado: Antes da segunda vinda haverá uma grande defecção religiosa (conforme Mateus 24:11-13); manifestar- se-á o homem da impiedade, o anticristo, voltado à perdição e causa de perdição para muitos, contrário à lei de Deus e ao próprio Deus e com pretensões de assentar-se no templo de Deus, isto é, ser adorado como Deus. Pela descrição que dele faz o apóstolo, o Anticristo parece ser um indivíduo determinado; para outros seria uma coletividade, uma série ininterrupta, de emissários do demônio, que desde os inícios do Cristianismo o combatem e o combaterão encarniçadamente (p. 1.422, destaques acrescentados).


O comentário está absolutamente certo, neste aspecto, porque quando um papa é eleito ele é investido num cargo vitalício que somente deixa quando morre. Ao ser substituído, seu sucessor dá seqüência à série de pontífices que somente terá termo na vinda de Jesus, quando será destruído, pelo assopro da Sua boca, conforme o texto profético da Palavra de Deus. Continuando: 7-8 A rebelião contra Deus e a luta contra a religião, inspirada pelo espírito das trevas já se iniciou e se vai alargando, mas encontra um impedimento no obstáculo; quando este for retirado, então manifestar-se-á o ímpio. O Senhor Jesus o destruirá com o sopro da Sua boca (Idem, p. 1.423).


Verdadeiramente, este poder apóstata e anticristão lutou encarniçadamente contra o Cristianismo. Usando o seu nome, procurou e quase conseguiu destruir os límpidos princípios do Evangelho Eterno ensinados pelos patriarcas e profetas hebreus, por Jesus Cristo e pelos Seus apóstolos. Somente uma minoria obstinada e fiel, perseguida e martirizada, manteve através dos séculos acesa a chama da verdade de Deus. Estes, perseguidos como hereges, são chamados por Deus através de Sua Palavra de Santos do Altíssimo .


Segundo a História, Em Antioquia foram cunhados dois nomes: o de cristão e o de católico, este último inventado por um escritor local do século II, o mártir Inácio (Grandes Personagens da História Universal, Paulo , Editora Abril, p. 130). As próprias Escrituras confirmam: Em Antioquia foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos (Atos 11:26).


A palavra católico tem a conotação de universal e, figuradamente, de algo correto , perfeito . Ao ser cunhada pela primeira vez referindo-se aos seguidores de Cristo, podia adequar- se perfeitamente aos puros princípios do Cristianismo praticados pelos primeiros cristãos. Era perfeitamente adequado o nome de IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA CRISTÃ, pois identificava uma igreja universal, cujo fundamento era Cristo, de Quem levava o nome, e confiada aos apóstolos, por comissão do próprio Senhor Jesus.


O Evangelho Eterno era pregado com grande poder e os seus frutos eram abundantes. Mas, aos poucos, a pureza apostólica foi dando lugar a um afrouxamento e afastamento dos límpidos ensinamentos de Jesus. Havia passado o primeiro período da igreja Cristã, representado no Apocalipse pela carta à Igreja de Éfeso (Apocalipse 2:7). A partir do imperador Nero a Igreja e seus seguidores foram vítimas de terríveis perseguições e milhares de fiéis testemunhas de Jesus tiveram o seu sangue derramado e pagaram com a própria vida pelo simples fato de ser cristãos.


Segundo o registro histórico, todas as instituições romanas (a justiça, o exército, o senado), a moral, os usos e os costumes estavam impregnados de paganismo. Os cristãos não queimavam incenso ao imperador e se opunham ao modo de vida da maioria, além de se reunirem em secreto, o que era proibido. Por isto, e muito mais, iniciaram-se as perseguições, já no ano 64 d. C., sob o governo de Nero. Outros imperadores, como Domiciano, Trajano, Marco Aurélio, Septímio Severo, Aureliano etc., também perseguiram os cristãos, terminando com Diocleciano, o último imperador romano a empreender feroz perseguição (Processo Histórico..., p. 81).


O sangue dos mártires, no entanto, era como semente fecunda. Por mais que Satanás oprimisse os cristãos, através das perseguições desencadeadas pelos imperadores romanos, mais o seu número aumentava. Foram dez as perseguições contra a Igreja. A mais terrível, e a última, mencionada especificamente na profecia (Apocalipse 2:10), teve a duração de dez anos, através do imperador Diocleciano.


Então, Satanás, conhecendo que a sua estratégia de perseguir não produzia os resultados que desejava, resolveu mudar de tática. A mulher, que representava na profecia a Igreja e esposa de Jesus Cristo, manteve-se fiel debaixo das mais ferozes perseguições, enfrentando os mais cruéis sofrimentos. Sendo impossível dobrá-la pela força, resolveu Satanás tentar conquistá-la pela sedução.