O dia da expiação era o mais solene e sagrado de Israel. Era o dia do juízo do povo e da purificação do santuário. Ele era celebrado no mês de Tishri , o sétimo mês do calendário judaico, no décimo dia do mês (Levítico 23:27). Neste dia todos os pecados transferidos para o santuário deveriam para sempre ser apagados. Era uma ocasião tão solene e sagrada que o seu preparo tinha início dez dias antes, conforme determinação do próprio Senhor (Levítico 23:24).


A esse respeito, a Enciclopédia Judaica, no Artigo Expiação , diz: Os primeiros dez dias de Tishri se tornaram os dez dias de arrependimento do ano, destinados a operar uma perfeita mu dança de coração, e fazer dos filhos de Israel, como criaturas nascidas de novo, atingindo a culminância no dia da expiação, quando o maior dom religioso, a perdoadora misericórdia de Deus, devia ser oferecida ao homem (vol. II, p. 281, cfe. ref. em ANDREASEN, M. L., O Ritual do Santuário).


Ao chegar o soleníssimo dia da expiação todos deveriam afligir a sua alma (Levítico 16:31), fazendo profundo exame de consciência, a ver se porventura algum pecado não fôra esquecido ou deixado de se confessar a Deus, e abandonado. O dia da expiação era o único no ano em que alguém podia entrar no segundo compartimento do santuário, o santo dos santos ou lugar santíssimo .


Era ali, voltamos a destacar, que ficava a Arca do Concerto, onde eram colocadas as tábuas da Lei, escritas com o dedo de Deus. A tampa da arca era chamada propiciatório e ali era onde a presença visível do Deus Altíssimo se manifestava através do Shekinah . Somente o sumo-sacerdote, naquela ocasião especialíssima, tinha acesso àquele lugar sagrado. Nenhuma outra pessoa, em nenhuma outra ocasião, ali pode ria entrar, sob pena de morte.


O sumo-sacerdote, representando Jesus Cristo, oficiava na ocasião vestido de linho, deixando de lado as vistosas e imponentes vestimentas que lhe eram peculiares. Tomava ele dois bodes para expiação do pecado e um carneiro para holocausto. Eram lançadas sortes sobre os dois bodes. Um dos bodes, então, representa ria o Senhor. O outro, chamado bode emissário , representaria Azazel ou Satanás.


No cerimonial típico, assim como o cordeiro representa Cristo, a justiça e os seus resgatados, o bode representa Satanás, o pecado e os impenitentes (Mateus 25:31-46). Jesus, o imaculado filho de Deus que nunca conheceu pecado, foi feito pecado e contado com os transgressores (Isaías 53:12).


Em outras ocasiões foi Jesus representado por símbolos do peca do. Na jornada dos Israelitas pelo deserto, havendo o povo pecado contra o Senhor, sobreveio-lhe, como conseqüência de sua rebeldia e murmuração, uma terrível praga de serpentes ardentes, cujas picadas mortais já haviam matado milhares de pessoas quando, a pedido do povo, Moisés orou ao Senhor. E disse o Senhor a Moisés: Faze uma serpente ar dente, e põe-na sobre uma haste; e será que vi verá todo mordido que olhar para ela. E Moisés fez uma ser pente de metal, e pô-la sobre uma haste; e era que, mordendo alguma serpente a alguém, olhava para a serpente de me tal, e ficava vivo (Números 21:8-9).


Aquela serpente de me tal representava a Jesus, conforme Suas próprias palavras, ao falar a Nicodemos sobre o novo nascimento , da água e do espírito, sem o qual ninguém pode ver o reino de Deus: E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado; para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna (João 3:14-15).


O bode sobre o qual caísse a sorte pelo Senhor e que representava a Jesus era oferecido para expiação pelo pecado (Levítico 16:9), como oferta pelo pecado do povo. Depois, como estava prescrito por Deus, era degolado este bode da expiação, que era para o povo e o seu sangue era trazido pelo Sumo Sacerdote para dentro do véu. O seu sangue era espargido sobre o propiciatório (Levítico 16:15), sob o qual estava a Lei transgredida e que exigia a morte do transgressor. Era aspergido, também, sobre o altar de incenso, que ficava diante do véu. E assim, era feita expiação pelo santuário por causa das imundícias dos filhos de Israel e das suas transgressões, segundo todos os seus pecados (Levítico 16:16).


As sim, era o santuário purificado e santificado, como está escrito: E daquele sangue espargirá sobre ele com o seu dedo sete vezes, e o purificará das imundícias dos filhos de Israel, e o santificará (Levítico 16:19). Desta forma, todos os pecados que haviam sido transferidos para o santuário durante todo o ano, simbolicamente, conta­minando-o, eram então removidos.


Havendo, pois, acabado de ex piar o santuário, e a tenda da congregação, e o altar, então fará chegar o bode vivo (Levítico 16:20). E continua a Palavra de Deus, em suas instruções: E o sumo-sacerdote porá ambas as suas mãos sobre a cabeça do bode vivo (que representava Azazel ou Satanás), e sobre ele confessará todas as iniqüidades dos filhos de Israel, e todas as suas transgressões, segundo todos os seus pecados; e os porá sobre a cabeça do bode, e enviá-lo-á ao deserto, pela mão dum homem designado para isso. Assim aquele bode levará sobre si todas as iniqüidades deles à terra solitária; e enviará o bode ao deserto (Levítico 16:21-22).


Ao ser levado ao deserto, este bode não mais retornava ao acampamento de Israel. Era exigido, da pessoa que o conduzia, que se lavasse e às suas vestes, com água, antes de voltar ao acampamento. Tudo isto tinha como objetivo impressionar os israelitas com a santidade de Deus e o Seu horror ao pecado. Ficava claro que eles não podiam entrar em contato com o pecado sem se poluir.