É uma questão plenamente aceita e absolutamente fora de dúvida que os patriarcas, os profetas e posteriormente a nação de Israel, ao ser instituída, representavam a Igreja de Deus no passado, conforme os relatos sagrados do Antigo Testamento. Ao ser manifestada a graça, no Éden, e desvendado ao homem o plano para a sua redenção, o Senhor estabeleceu um sistema que deveria manter sempre viva em sua memória a promessa do Salvador que viria para morrer em seu lugar.


Durante milênios foi ensinado ao povo, através de símbolos representativos e cerimônias, que um dia, no futuro, viria o Messias para cumprir a promessa feita, libertando o homem do poder da morte e do pecado. Tudo o que o Messias deveria realizar foi representado em sombras ou tipos, que deveriam ser lembrados ou executados, até que Ele viesse pessoalmente para cumprir tudo aquilo que estava prefigurado através dessas cerimônias.


O mais impressivo desses símbolos era o animalzinho perfeito, sem nenhuma mancha ou defeito, de preferência um cordeiro, que era morto em lugar do pecador e que representava Jesus Cristo, “o Cordeiro de Deus”, a verdadeira oferta pelo pecado. Este sistema cerimonial, simbólico e representativo, teve seu início no Éden, quando foi morto o primeiro animal (Gênesis 3:21), cuja pele serviu para cobrir a nudez do primeiro casal, prefigurando as vestes da justiça de Cristo.


Sempre que um animal fosse sacrificado viria à lembrança do homem que era um inocente morrendo em seu lugar e que representava o verdadeiro sacrifício que seria oferecido futuramente: o próprio Criador dando a Sua vida incontaminada, em lugar da humanidade pecadora. Ao matar o animal ele sentiria horror pelo pecado, como causa da morte e de separação de Deus.


Durante milênios este sistema, estabelecido por Deus, cumpriu o propósito de mostrar através de símbolos, o plano da redenção. Além dos sacrifícios de animais foram instituídas outras formas de ofertas, todas representando o Messias vindouro, o Senhor Jesus Cristo. Ele, que disse ser “o pão da vida” (João 6:35), era prefigurado nos pães da proposição e nas ofertas de manjares, nos quais não era adicionado o fermento, símbolo do pecado (Levítico 2:11).


São inúmeras as leis cerimoniais que o próprio Senhor estabeleceu como figuras de Cristo: a lei do holocausto (Levítico 6:8-13), a lei da oferta de manjares (Levítico 6:14-­18), a lei da expiação do pecado e da culpa (Levítico 6:24-30 e 7:1-10), dentre inúmeras outras. Estas leis foram instituídas pelo próprio Senhor, como está escrito: “Também o Senhor me ordenou ao mesmo tempo que vos ensinasse estatutos e juízos, para que os fizésseis na terra a qual passais a possuir” (Deuteronômio 4:14).


É importante ressaltar que todas estas leis foram escritas por Moisés num livro, que foi colocado ao lado da arca do concerto, não podendo ser confundidas com as tábuas da lei, escritas com o dedo de Deus e colocadas dentro da mesma arca.


Além destas leis cerimoniais outros sinais merecem destaque nesse sistema peculiar: a circuncisão e o estabelecimento de festas nacionais, que representavam acontecimentos futuros.


Todo este sistema cerimonial teve a sua utilidade e tudo se cumpriu na pessoa e na vida de Jesus. Está escrito que “todos os profetas e a lei profetizaram até João” (Mateus 11:13). Com efeito, ao se deparar com o Salvador, mesmo sem nunca tê-Lo visto antes, o “Batista” declarou: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29). Esta afirmação feita com autoridade não deixa dúvidas a respeito do caráter e da missão de Jesus que, ao ser ungido por João, inaugurou o Seu ministério sagrado, anunciando: “o tempo está cumprido...” (Marcos 1:15).


Este “tempo” é o mencionado na profecia, anunciando a época em que Ele viria inaugurar o Seu ministério pessoal (Daniel 9:25). Portanto, fica claro que esta passagem da Escritura teve cumprimento no momento em que Jesus foi ungido por João, através do Seu batismo. As leis de cerimônias e os profetas indicavam aquele momento, quando Ele recebeu a incumbência de levar então, pessoalmente, o conhecimento do Reino de Deus ao mundo.


Durante três anos e meio Jesus anunciou este Reino, pregando o Evangelho Eterno, as boas novas de salvação. Ao término deste período foi morto, cumprindo tudo aquilo que dEle estava escrito, conforme Suas próprias palavras, depois de ressuscitar: “São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de Mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas, e nos Salmos” (Lucas 24:24).


Ora, depois de ser oferecido o verdadeiro sacrifício, na cruz do calvário, não mais seriam necessários os sacrifícios dos animais simbólicos. Ao morrer Jesus, o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo, numa demonstração inquestionável de que aquele sistema estava para sempre ultrapassado. O tipo encontrara o antítipo. A sombra encontrara a figura.


Confirmando esta verdade o livro da revelação relata: “E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça. E estava grávida, e com dores de parto, e gritava com ânsias de dar à luz” (Apocalipse 12:1-2).


A mulher, biblicamente, simboliza uma igreja. Quando representada por uma mulher pura, virtuosa, representa a igreja de Deus. Representada por uma mulher adúltera ou prostituta, representa uma igreja apóstata. No texto citado ela representa a Igreja do Senhor. O estar grávida e com ânsias de dar à luz, simboliza o nascimento da Igreja Cristã, cujas doze estrelas representam os doze apóstolos, escolhidos por Cristo como Seus ajudadores nessa obra.


A lua debaixo dos seus pés representava todo o sistema sacrifical daquela antiga dispensação patriarcal e judaica, que serviu para iluminar os caminhos do Antigo Testamento, até Jesus. Vindo o “Sol da Justiça”, não mais seria necessária a luz da lua, mesmo porque a luz por ela irradiada não é uma luz própria, mas refletida do sol. Durante a noite o brilho do sol é refletido através da lua, fornecendo a sua luz de maneira indireta. Ao alvorecer, surgindo o sol, a lua é ofuscada pela luz do sol, cujo brilho dispensa a luz da lua.


Jesus é o “Sol da Justiça”, como está escrito: “Mas para vós, que temeis o Meu nome nascerá o sol da justiça, e salvação trará debaixo das suas asas” (Malaquias 4:2). Vindo Jesus, todo aquele sistema cerimonial perdeu a sua utilidade, tendo cumprido os propósitos que Deus teve ao instituí-lo. Este conjunto de normas, conforme as palavras de Paulo, nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que por Ele (pela fé) fôssemos justificados. “Mas, depois que a fé (em Cristo) veio, já não estamos debaixo de aio” (Gálatas 3:24-25).


Tudo que estava prescrito nas leis cerimoniais caducou com o sacrifício de Cristo. Os judeus, rejeitando o Messias não abandonaram as suas práticas e os seus holocaustos e festas cerimoniais. Tudo o que Paulo e outros apóstolos declaram como LEI na verdade constitui todo o sistema judaico denominado TORAH, cujos preceitos simbólicos e representativos não mais teriam valor após o cumprimento dos mesmos na vida, morte, ressurreição e glorificação de Jesus.


Todos estes preceitos e ordenanças, conforme as palavras de Paulo, eram como uma cédula que era contra nós e foi riscada por Jesus, que a tirou do meio de nós, “cravando-a na cruz” (Colossenses 2:14). A desobrigação desses preceitos é confirmada pela afirmação do apóstolo: “Portanto ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo” (Colossenses 2:16-17).


Cada festa cerimonial era considerada como um “sábado” ou repouso simbólico, e não se referiam aos sábados semanais, ou ao sétimo dia da Lei Moral. O cerimonialismo e os rituais judaicos adquiridos e acrescidos pela tradição legalista transformaram as formas de culto em uma carga quase que insuportável, merecendo a admoestação de Paulo e do próprio Salvador.


Segundo Paulo, “se estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; as quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne” (Colossenses 2:20-23). Este formalismo observado pelos judeus foi veementemente condenado por Jesus, que os repreendeu, conforme o texto bíblico expresso em Mateus 15:1-20.


A tradição legalista, já referida, impunha uma série de abluções rituais, inclusive o costume inútil e irrazoável de lavar as mãos sete vezes antes das refeições. Ao verem os fariseus que Jesus e os Seus discípulos descumpriam aquela tradição, certamente lavando as mãos apenas uma vez, julgaram-se com autoridade para repreendê-los, por não observarem a tradição dos anciãos. É lógico supor-se que Jesus, o Autor da vida e das leis de saúde e higiene seria o primeiro a cumprir e ensinar os preceitos que Ele próprio instituiu, como o salutar, higiênico e prosaico hábito de lavar as mãos antes das refeições.


Desnudando as suas secretas intenções o Salvador provou que eles, os acusadores, é que transgrediam a lei de Deus, pela espúria tradição instituída por eles mesmos e pelos seus ancestrais. Jesus, no texto mencionado, deixou absolutamente esclarecido que as coisas que contaminam o homem são as que procedem do coração, como os pensamentos de impureza, de lascívia, os adultérios e os homicídios, e não o comer sem lavar as mãos sete vezes seguidas. Ele não Se referiu à ingestão de alimentos impróprios ou qualquer outra coisa nociva à saúde.


É claro que Jesus não iria contradizer os ensinamentos que Ele próprio deixara para o homem. O que Ele disse foi que tudo o que entrar pela boca do homem, seja saudável ou não, depois e pela reação do próprio organismo, será lançado fora, será expelido, podendo não acarretar outras conseqüências. Exemplo: se uma pessoa se embriaga ou se intoxica pela ingestão de bebidas alcoólicas em excesso ou comidas inservíveis, após um período de “ressaca”, mal-estar ou indigestão, voltará ao normal, pela ação dos mecanismos de defesa do seu organismo.


Deste episódio ficam três exemplos e advertências de solene e fundamental importância: 1) A hipocrisia no louvor a Deus: “Este povo honra-Me com os seus lábios, mas o seu coração está longe de Mim” (verso 8); 2) A inutilidade deste louvor: “Mas em vão Me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens” (verso 9); e 3) A inutilidade dos falsos ensinamentos e o infalível resultado que advirão dos mesmos: “Toda a planta que Meu Pai Celestial não plantou, será arrancada” (verso 13).


Para não deixar nenhuma dúvida a respeito do que pretendeu ensinar, Jesus declarou: “... tudo o que entra pela boca desce para o ventre e é lançado fora. Mas o que sai da boca, procede do coração, e isso contamina o homem. Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, e blasfêmias. São estas coisas que contaminam o homem; mas comer sem lavar as mãos, isso não contamina o homem” (versos 17-20).




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